Tradicional motor da economia, o agro deve entrar em 2024 com outro ritmo. Depois de crescer 16,1% em 2023, o PIB agropecuário não deve colaborar como o crescimento da economia brasileira em 2024, segundo projeção da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). O setor tende a desacelerar no próximo ano devido a um contexto adverso que combina conjunturas nacional e mundial e efeitos do clima. A entidade espera que o agro recue 3,35% no próximo ano.
No Rio Grande do Sul, o Valor Adicionado Bruto (VAB) do agronegócio em 2023 (21,8%) deve ser superado em 2024. Ao contrário do movimento nacional, o setor agropecuário gaúcho pode crescer 41% no próximo ano, ainda que consideradas as bases fracas de comparação dos últimos ciclos.
O desempenho deve ser puxado pelas colheitas de soja e de milho e pela recuperação no arroz. Segundo a Farsul, não será uma safra histórica, mas já melhor que a última, que foi marcada pelas dificuldades devido à estiagem. A produção total de grãos esperada é de 37,1 milhões de toneladas, ou 30,6% maior que a anterior.
Os dados foram apresentados nesta terça-feira (19), em coletiva da entidade com o balanço de 2023 e projeções para o próximo ano.
A melhora no campo é o que deve ajudar a indústria a voltar a crescer, e também a amenizar a queda nos serviços, conforme analisa o economista-chefe da entidade, Antônio da Luz. A federação projeta crescimento de 5,49% no PIB gaúcho em 2024, após alta de 3,01% em 2023.
— Estamos comparando um ano ruim com um ano péssimo. Apesar de ser ano de crescimento, este não é um ano bom — contextualiza Luz.
Mesmo com o desempenho fraco no Rio Grande do Sul (que ainda colhe os impactos de duas estiagens seguidas), o país registrou uma supersafra em 2023. Já em 2024, apesar da área plantada maior e da expectativa de safra dentro da normalidade no Estado, os efeitos do El Niño e o atraso nos plantios de verão devem impactar.
As projeções gerais da Farsul para a economia indicam que o PIB brasileiro deva fechar 2023 com alta de 2,94%, novamente puxado pelo agro, mas com crescimento modesto de 1,17% em 2024.
Corte em benefícios fiscais
A pauta fiscal, que esquentou o debate nos últimos dias no Estado, foi citada em tom de preocupação pelos representantes da Farsul. A entidade reafirmou a posição contrária do setor ao aumento de impostos no Estado.
— Nos colocamos contra qualquer aumento de carga tributária — enfatizou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Ontem, após grande resistência, o governador Eduardo Leite anunciou a retirada do projeto que pretendia elevar as alíquotas de ICMS de 17% para 19,5%. A saída será dar sequência ao chamado "plano B", que prevê cortes de benefícios para setores produtivos no RS.
A alternativa buscada, porém, afeta diretamente o agronegócio, já que os itens relacionados à agricultura encabeçam os 64 segmentos listados para o corte linear de benefícios concedidos.
A entidade não se coloca contrária à revisão dos incentivos. No entanto, diz que os impactos da medida precisam ser mensurados. Dos segmentos selecionados no plano alternativo de Leite, 22% são diretamente ligados ao agro e 45% envolvem a produção de alimentos.
— Não somos contra a revisão de incentivos fiscais, que não fomos nós que criamos. No RS, 83% dos segmentos recebem algum tipo de incentivo. O que temos dificuldade de aceitar são simplesmente cortes sem a correta mensuração do impacto — defendeu Luz.
— Temos que ter muito cuidado com o que se mexe — completou o presidente da entidade.
Cautela ao produtor
Projetando um ano de dificuldades no ambiente interno e externo, a Farsul elenca riscos para os quais o setor deve estar preparado em 2024. Depois de dois anos difíceis em sequência, o setor deve reduzir investimentos para se preparar para eventuais reflexos do cenário mundial.
Entre os pontos de atenção, a entidade cita queda no PIB por eventual recessão global, além de queda no preço das commodities, de redução na demanda de produtos como a carne e da piora na escassez do crédito.
Não havendo recessão, a tendência é de que os juros permaneçam elevados, o que pode aumentar o patamar do câmbio e também levar a um crescimento econômico menor.
Um terceiro ponto de preocupação é listado pela entidade, com possível quebra no setor imobiliário chinês. Uma crise no país asiático, que é o maior parceiro comercial do Brasil, traria forte impacto para o agronegócio gaúcho, menciona a Farsul.