Casos recentes de centenas de demissões em fabricantes de máquinas agrícolas do Rio Grande do Sul preocuparam, especialmente pela representatividade do setor na matriz industrial gaúcha. Além disso, o Estado responde por 60% da produção nacional destes veículos e equipamentos. As empresas têm apontado queda nas vendas.
A partir dos dados do Ministério do Trabalho, o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank, identificou o fechamento de 653 postos de trabalho formais no segmento de fabricação de máquinas e equipamentos para agricultura e pecuária de janeiro a outubro de 2023. No mesmo período de 2022, o segmento criou 2.885 vagas e, nos 10 primeiros meses de 2021, foram 4.966 novos empregos com carteira assinada.
Ou seja, a base é alta. O fechamento de postos de trabalho não é bom e sinaliza desaceleração e recuo de um setor. Porém, ele segue mantendo muito do que cresceu nos últimos anos. Há, também, a expectativa de uma retomada a partir de maio de 2024, quando entra no mercado a safra de verão, especialmente de soja. Além disso, o segmento de tratores, apesar de ter números bem menores do que os demais, ainda vem criando vagas.
Para analisar o momento do setor e fazer projeções, o programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ouviu o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier:
O que está provocando a queda nas vendas que leva a essas demissões?
A alta das commodities, especialmente a soja chegando a R$ 200 por saca, deixou agricultores altamente capitalizados. Como dificilmente um vizinho venderia a terra a outro, a solução era investir em equipamentos melhores, novas tecnologias e produzir mais. Viemos de anos maravilhosos, com régua muito alta. Não tinha empresa que entregasse máquinas em menos de seis meses. As fábricas passaram a fazer mais turnos e contratar pessoas. Na pandemia, faltou componente e deixaram máquinas semiprontas. Quando a peça chegou, houve outra corrida por mão de obra para finalizá-las, porque o agricultor estava ávido. Porém, vimos os pedidos diminuírem.
Por quê?
Vimos que as eleições trouxeram um pessimismo na agricultura. Além disso, o juro ainda está alto. Mas as cotações das commodities caíram bastante. Na cabeça do agricultor, a soja tem que chegar a R$ 200 porque já esteve a R$ 200. Não vai chegar. Aquilo ali foi uma situação muito boa, mas dificilmente voltará a este patamar.
Ouça a entrevista completa:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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