A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Proteína conhecida por ser mais acessível no cardápio dos brasileiros, o preço do ovo nas gôndolas disparou e teve a maior alta em 10 anos. De acordo com o último Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo IBGE, a alta chega a 22,93% no acumulado de 12 meses. No mesmo período, a inflação oficial alcançou 3,16%. Ou seja, o valor do ovo cresceu sete vezes mais do que a média da alta de preços. E um dos motivos vem de fora.
Para André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), esse cenário de alta se explica pelo volume que o Brasil tem exportado da proteína:
— Os custos de produção do milho e da soja estão muito mais em conta, porque houve uma queda muito forte no preço desses grãos, que são usados no trato das aves. O que pode explicar este aumento do ovo é exatamente o volume de exportação. Aproveita-se essa brecha, exporta-se bem, ganha-se em dólar, mas desabastece o mercado local e o preço sobe.
Só no Rio Grande do Sul, as exportações de ovos mais que dobraram no primeiro semestre deste ano. De 1,17 mil toneladas nos primeiros seis meses de 2022, o volume saltou para 3,16 mil toneladas, de acordo com a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Já a receita triplicou e foi de US$ 3,9 milhões para US$ 11,8 milhões no mesmo período. O Estado é o terceiro maior exportador de ovos do país.
No Brasil, o crescimento dos embarques foi de 150%, atingindo o volume de 16,6 mil toneladas neste primeiro semestre de 2023, conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Em faturamento, o setor nacional da indústria e produção de ovos contabilizou US$ 41,2 milhões, ou seja, 222,4% de aumento.
Presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos reconhece que as exportações da proteína cresceram. Mas entende que também é preciso olhar para trás para entender a alta nos preços:
— O setor foi muito prejudicado pela alta fora do comum dos grãos, principalmente de milho, nos últimos três anos. Para minimizar o impacto, houve uma redução drástica de produção.
Ainda segundo Santos, a gripe aviária que acometeu os Estados Unidos, matando 60 milhões de aves, também influenciou o mercado brasileiro:
— Diversos países que eram clientes dos americanos se voltaram para o Brasil (para comprar ovos).
Com a oferta interna ajustada e apetite externo crescente, o preço aqueceu internamente. Mas o presidente da Asgav garante que não vai faltar produto. Sobre o valor, é o economista da FGV quem opina. Na sua avaliação, o preço alto no varejo deve ser temporário.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a variação continua subindo apenas nos supermercados. Nas últimas quatro semanas, o preço do ovo no atacado comercializado vem caindo na maioria das praças que a instituição acompanha: custava R$ 203,25 a caixa com 30 dúzias na terceira semana de junho, e passou para R$ 190,70 na mesma semana de julho na região de Grande SP (SP).
Segundo colaboradores consultados pelo Cepea, a liquidez do produto vem se mantendo pela realização de promoções, uma vez que a oferta no mercado também está alta. E é justamente essa disponibilidade elevada que tem pressionado as cotações da proteína.