A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A reta final da temporada de verão no campo, com as últimas áreas de soja sendo colhidas no Rio Grande do Sul, volta as atenções para a safra de inverno. Mas o cenário, este ano, tem diferenças em relação a 2022, deixando em aberto as chances de se repetir outra safra histórica.
Diferentemente do ano passado, quando o mercado ainda repercutia os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia e via elevar os preços de matérias-primas como o trigo, neste ciclo, o quadro deve ser outro, projeta o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires:
— Quando plantamos a safra do ano passado, havia o efeito da guerra e o preço mundial do trigo subiu muito. Qualquer conta que se fizesse, mostrava um orçamento promissor. Hoje, isso não é real. O preço pago está baixo e o custo está alto.
O cenário recrudesce quando entram na conta os ingredientes nacionais. Ainda colhendo os prejuízos de uma terceira safra consecutiva frustrada pela estiagem, os produtores também lidam com os problemas de crédito. Além da pouca oferta nas linhas subsidiadas, o custo do crédito está caro no mercado privado. Para Pires, tudo isso deve se refletir em uma safra menor neste inverno.
— Infelizmente, pelo menos entre as cooperativas, prevemos uma redução — antecipa Pires, acrescentando preocupação com queda de 40% no preço dos principais produtos agrícolas do RS.
Coordenador da Câmara Setorial do trigo no RS, Tarcísio Minetto concorda que as dificuldades se impõem ao produtor, mas acredita que o Estado deve, no mínimo, manter a área do ano passado.
A safra da estação vem numa crescente nos últimos três ciclos. No último inverno, a área plantada do trigo totalizou 1,47 milhão de hectares, 20% maior que a safra de 2021. Já a produção do cereal foi a maior da história do RS e superou 5 milhões de toneladas em 2022. Segundo a Emater, a temporada foi robusta também nas demais culturas de inverno. Foram colhidas 101,7 mil toneladas de canola (85,76% a mais que no ano anterior) e 127,3 mil toneladas de cevada (alta de 14,8%).
Para Minetto, apesar de os preços serem inferiores a outros anos, a safra de inverno é oportunidade de recuperar perdas financeiras, de fazer rotação de culturas, e de aproveitar uma estrutura já existente de terra e de máquinas nas propriedades.
— Claro que o produtor está mais descapitalizado, mas é a primeira oportunidade de recuperar parte da renda perdida no verão. Os custos deram uma acomodada, e o grande problema que podemos ter é o acesso é o crédito. O setor como um todo está estrangulado nesse sentido — diz Minetto.