A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O esgotamento precoce de recursos nas linhas oficiais de financiamento rural se impõe como mais um desafio aos trabalhadores do campo, sobretudo aos pequenos produtores. Mais uma vez e pelo segundo ano safra seguido, a suspensão das linhas subsidiadas limita a contratação de crédito para investimentos e custeio de despesas nas propriedades.
Na região de Ijuí, no noroeste do Estado, o produtor Luiz Carlos Pomer relata que a falta de crédito tem desanimado os agricultores. Ainda mais com outra estiagem no campo.
Pomer atua no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santo Augusto, entidade ligada à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), e é responsável por encaminhar às agências bancárias os projetos dos agricultores que buscam acesso às linhas de financiamento. Ele contou à coluna que há um mês e meio já não envia mais propostas aos bancos por causa das negativas. Cerca de 800 agricultores são associados ao sindicato.
Santo Augusto é um dos maiores produtores de soja da região noroeste. Além da falta de recursos, o município sofre com a seca. A cidade teve decreto de situação de emergência homologado pelo Estado no fim de janeiro e já reconhecido pela União.
— Desde julho, quando se abre o ano agrícola, temos notado que são poucos recursos. Não são o que a gente precisa para o atual momento do agro. Ano passado foi ainda mais grave, porque faltou recurso para o plantio do trigo. Este ano, nas linhas do Pronamp, o dinheiro não durou dez dias — diz Pomer.
Próximo de Santo Augusto, um dos afetados pela falta de recursos é Jucemar Pes, produtor em São Valério do Sul. Ele buscou as linhas do Plana Safra para adquirir uma plantadeira de inverno nova. Chegou a escolher o modelo na concessionária e encaminhar a papelada, mas o pedido foi negado.
A máquina custava R$ 120 mil e o valor seria totalmente financiado.
— Fui falar com o gerente do banco e o recurso tinha acabado, sem previsão de retorno. Fazia só dois dias que eu tinha encaminhado tudo. Liguei de novo para a empresa e tornei o pedido nulo. Causou um transtorno e ainda deixou a gente numa saia justa. Precisamos do implemento e não tem o que fazer. Só aguardar — lamenta Pes.
O produtor costuma acessar as linhas do Pronaf, destinada ao fomento da agricultura familiar, para levantar recursos. Em seus 50 hectares de lavoura, planta trigo, aveia, soja e milho, além de forrageiras, mantendo as terras cobertas no inverno e no verão. No ano passado, a colheita do trigo ajudou a garantir “uma gordurinha” na receita da propriedade, mas que já será queimada com as perdas deste verão.
— Sou um “pronafiano”, não posso nem comprar uma máquina muito cara. E sem o recurso, não tenho como adquirir — completa o agricultor.
No ano passado, início do ano safra atual, foram anunciados R$ 340,88 bilhões para o Plano Safra 2022/2023, classificado pelo então governo Bolsonaro como o programa mais robusto da história. Mas nem assim os recursos foram suficientes.
Pelo menos 11 linhas de financiamento foram suspensas por esgotamento dos recursos. Em resposta à questionamento da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que as linhas devem ser retomadas com mais recursos nos próximos dias. Enquanto não pingam novos valores, os pequenos produtores ficam sem saída.
— O grande produtor ainda pode seguir para outras linhas (de financiamento) ou para as que são direto com as empresas e fabricantes. Mas o pequeno não tem essa possibilidade. É uma roda que para de girar. Se não financia a máquina, ela não sai do estoque da empresa, diminuem-se as contratações e lá na frente chega nas demissões, afetando todos os setores — lembra Pomer, do Sindicato Rural de Santo Augusto.