A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mais uma vez, o esgotamento de crédito antes do previsto nas linhas oficiais do Plano Safra preocupa os produtores que dependem do recurso para financiar a produção. A suspensão das linhas, que já havia sido problema no ano passado, tem exigido remanejo dos recursos por parte do BNDES, mas nem mesmo os valores adicionais resolvem o cobertor curto.
No início do mês, o banco público viabilizou a liberação de mais R$ 2,9 bilhões para atender à alta demanda, mas o dinheiro extra esgotou em questão de horas. Até o momento, são nove linhas de financiamento rural suspensas.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) informou à coluna que recebeu relatos dos sindicatos sobre a falta de recurso para duas linhas operadas pelo BNDES, Pronamp e Pronaf Investimento. Ambas são voltadas à agricultura familiar.
A entidade diz que vem cobrando desde as últimas reuniões com os Ministérios a reorganização financeira para que as linhas tenham crédito liberado. No início da semana, o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, esteve na comitiva gaúcha que foi a Brasília apresentar demandas de enfrentamento à estiagem e a questão do financiamento rural esteve entre os temas.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República disse que o governo trabalha para que novos recursos sejam viabilizados “com a maior brevidade possível”.
“Um novo ciclo de abertura de crédito começará, logo que novos recursos estejam disponíveis”, diz trecho do comunicado.
Questionado pela coluna, o BNDES respondeu que permaneciam em operação nesta sexta-feira (10) as linhas ABC Ambiental, Moderagro e algumas linhas do Pronaf. O valor disponível é cerca de R$ 400 milhões.
Para o setor, no entanto, o esgotamento dos recursos é uma realidade a ser lidada e tende a se agravar nos próximos anos. É como avalia o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz:
— A tendência, infelizmente, é de que para no próximo Plano Safra esse problema se agrave ainda mais, porque já está estabelecido. O que está acontecendo hoje começou a dar os primeiros sinais em 2010.
O economista argumenta que a economia brasileira não consegue crescer no mesmo ritmo do agronegócio, que vem expandindo 4,5% ao ano. Como a conta não fecha, faltam recursos e o caminho passa a ser os financiamentos privados no mercado, a exemplo dos Fiagros e dos CRAs.
— Temos um sistema de crédito rural oficial que depende de depósitos à vista e de caderneta de poupança. Quando a economia não vai bem, como acontece há dez anos, não há como aumentar a quantidade de recursos. Além disso, houve um processo inflacionário violento. A pressão por crédito naturalmente iria entrar em colapso porque temos um ente aumentando a demanda e outro incapaz de aumentar a oferta — analisa Luz.