O trigo gaúcho poderá ganhar mais um destino final daqui a duas safras. Além dos moinhos (como alimento), da indústria animal (como ração) e de contêineres (para exportação), há a possibilidade de ser matéria-prima em usina de etanol da gaúcha BSBios. Com investimento de R$ 556 milhões, a empresa projeta construir uma indústria em Passo Fundo, e a previsão é de que, caso os licenciamentos necessários sejam disponibilizados dentro do esperado (etapa atual), as operações já possam iniciar no segundo semestre de 2024. O protocolo de intenções com o governo do Estado e o município foi firmado em junho deste ano.
Durante o evento Tá Na Mesa da Federasul, o presidente da empresa, Erasmo Battistella, citou outro ingrediente importante para o empreendimento funcionar, além dos recursos aportados:
— Vamos fomentar a produção de trigo.
Constatação feita em um momento oportuno, diga-se de passagem. O setor tem se movimentado para ampliar a safra de inverno no Estado, que ainda é tem uma ára menordo que a de verão. O objetivo é fornecer mais renda para o produtor, opção de alimento para os animais e evitar prejuízos por conta de estiagens. O programa Duas Safras e a projeção de volume recorde de mais de 4 milhões de toneladas de trigo neste ciclo são exemplos dessa movimentação.
Mas, ainda que o cenário seja propício, a empresa também vem preparando o setor produtivo. A Embrapa Trigo, de Passo Fundo, e a Biotrigo, por exemplo, estão desenvolvendo variedades do cereal voltada para a produção de etanol. Uma cultivar, inclusive, já ganhou registro.
Battistella também adiantou que a empresa deve anunciar outros parceiros nos próximos dias. Mas uma pista foi dada: são cooperativas e cerealistas. Ao todo, estima-se que será preciso aumentar em 350 mil hectares a produção de trigo. Um incremento de 25%, considerando que, hoje, o Estado semeia 1,4 milhão de hectares. Isso porque a capacidade final instalada de processamento será de 1,5 mil tonelada de cereais por dia.
Além do trigo em si para o etanol, a indústria gerará um coproduto: o seu farelo, que deverá ser direcionado para rações animais.
O faturamento esperado desse empreendimento é de R$ 1,3 bilhão, com geração de 143 empregos diretos e mil indiretos. Além de trigo, a indústria processará milho, triticale, arroz, sorgo, entre outros. Por ano, será possível produzir 210 milhões de litros do biocombustível, o equivalente a 23% do mercado gaúcho para o etanol veicular.
Confira como deve ser instalado o empreendimento:
Durante o evento, Battistella ainda comentou sobre a porcentagem de biodiesel adicionada ao diesel comum:
— O que eu e todos os industriais que investiram neste setor esperam é que se cumpra a legislação — afirma, referindo-se a uma mistura de 14% e não de 10%, com vem sendo praticado na bomba.
*Colaborou Carolina Pastl