O número 10 costuma ser uma referência de excelência quando usado como parâmetro de avaliação. No caso da produção de biocombustíveis do Brasil, essa era a nota que o setor esperava deixar para trás. A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de manter em 10% o percentual mínimo de biodiesel a ser adicionado à mistura do diesel em 2022, é visto como um pé no freio do avanço programado. E trará impactos que vão do abandono de investimentos ao fechamento de fábricas, preconizam integrantes do setor.
– As empresas se prepararam com investimentos, compraram esmagadoras de soja (principal matéria-prima da produção de biodiesel no Brasil). Muitas podem quebrar – assegura Francisco Turra, presidente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).
A entidade emitiu nota em que observa que “o ano termina marcado por um dos maiores retrocessos do RenovaBio, distanciando o país de um ambicioso plano de previsibilidade de crescimento e investimento para atender o mercado por meio de uma política de transição energética para uma matriz mais limpa”.
O Ministério de Minas e Energia argumenta que a manutenção alinha-se aos interesses da sociedade, sendo parte das medidas que tentam conter o preço do diesel. Turra contrapõe, citando que o impacto do biodiesel na formação de preço final do diesel B, entre janeiro e outubro, foi “insignificante”, apontou levantamento feito. Foi de 0,1 ponto percentual – passando de 13,6% para 13,7% – , ao passo que o do diesel fóssil foi de 8,5 pontos percentuais.
A política nacional de desenvolvimento do biodiesel previa aumento gradual, de um ponto percentual, no mínimo a ser adicionado. Neste ano, deveria ter chegado a 13%, evoluindo para 15% em 2023.
– Temos indústria pronta para B15 já. O governo cortou 40% do mercado. Perdeu a confiança do setor – pondera Erasmo Carlos Battistella, CEO da BSBIOS.
O presidente da Aprobio cita outros dois fatores a serem considerados. Um é a projeção de nova safra recorde de soja no país. O outro, o efeito sobre o volume de farelo de soja – que resulta do esmagamento.
– O que deixamos de produzir, importamos. O emprego verde deixa de acontecer aqui – ressalta Turra, que busca uma audiência para tratar do tema com o presidente Jair Bolsonaro.