O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A gaúcha BSBios firma, nesta segunda-feira (20), um protocolo de intenções com governo gaúcho para articular, em Passo Fundo, um investimento de R$ 316 milhões na implantação de uma usina produtora de etanol e farelos a partir do processamento de cereais (milho, trigo, triticale, arroz, sorgo, dentre outros). A estimativa é que o aporte aconteça no segundo trimestre de 2023 e o início das operações no segundo semestre de 2024.
O protocolo estabelece tratamentos tributários de ICMS para aquisições de fornecedores locais, conforme explica Erasmo Battistella, presidente da empresa. A partir de agora, avançam os estudos necessários, projetos de engenharia e a estrutura de financiamento para que a planta comece a operar na safra de trigo de 2024. Nos próximos dias, também será assinado um protocolo de intenções com a Prefeitura de Passo Fundo.
A iniciativa da BSBIOS estará no contexto da Política Estadual de Estímulo à Produção de Etanol (PL 292/20), que criou o Programa Estadual de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Etanol (Pró-Etanol). O objetivo é reduzir a dependência do Rio Grande do Sul do etanol de outras regiões do país. Isso permitirá à organização aderir ao Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (FUNDOPEM) e ao Programa de Harmonização do Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Sul (INTEGRAR).
Prevista para operar em duas fases, com processamento de 750 toneladas/dia de cereais em 2024 e de 1.500 toneladas/dia, em 2027, o projeto totaliza um investimento de R$ 556 milhões no período. O empreendimento deve representar um incremento de R$ 1,3 bilhão em faturamento anual para o ECB Group, e vai gerar 143 novos empregos diretos e aproximadamente mil indiretos.
A usina será flexível para a produção de etanol anidro (que pode ser adicionado na gasolina) ou hidratado (consumo direto) terá capacidade de 111 milhões de litros em sua primeira fase e, atingirá 220 milhões de litros, dobrando sua capacidade, quando totalmente instalada. Ela estará localizada na cidade de Passo Fundo, na BR-285, Km 316.
A unidade contará com autoprodução de energia elétrica com cogeração à biomassa e a oferta de energia excedente será disponibilizada na rede de distribuição do município. Não haverá lançamento de efluentes líquidos, que serão utilizados para produção de vapor no processo de produção.
Como surgiu o projeto?
O Estado importa 99% do etanol que consome. Com estudos técnicos, constatamos a viabilidade de instalar essa usina para fomentar ainda mais a produção de cereais na região Norte. Os dois principais, com melhores rendimentos, são o milho e o trigo. Mesmo assim, a usina será flex e poderá usar outros cereais como matéria-prima. Esperamos que a chegada da produção de etanol com cerais ajude a ampliar a safra de milho no verão. Já no inverno, há muita área ociosa (após as colheitas de soja). Por isso, o objetivo é aproveitar essa segunda safra, onde há terras e máquinas ociosas. Já realizamos parceria com a Biotrigo Genética, empresa líder de melhoramento genético do trigo na América Latina, e desenvolvemos duas variedades. Ambas geram mais amido do que proteína, diferente de panificação, que possui mais proteína e menos amido. No nosso caso, o amido vira o açúcar que será a base para o etanol.
E a capacidade de produção?
Após a segunda fase, a capacidade seria para abastecer até 20% do mercado gaúcho. Imaginamos que esse etanol fique na própria região Norte do RS. Vamos produzir com matérias-primas oriundas de um raio de 150 quilômetros e o etanol anidro (que pode ser adicionado na gasolina) tem mistura obrigatória de 27% na gasolina. A usina será flexível para a produção de etanol ou hidratado (consumo direto), comportando 111 milhões de litros na primeira fase e 220 milhões de litros, na segunda, o que demanda investimento de R$ 556 milhões até 2027. O empreendimento deve representar incremento de R$ 1,3 bilhão em faturamento anual para o ECB Group, vai gerar 143 empregos diretos e mil indiretos. Na primeira fase, precisamos aumentar em 100 mil hectares a produção de trigo. Na segunda, 250 mil hectares. Hoje, o RS semeia aproximadamente 1,4 milhão de hectares.
Existem cooprodutos que podem ser utilizados no processo?
Sim, e isso é muito importante. O farelo, conhecido como DDGS (Distiller's Dried Grains with Solubles) ou Grãos Secos de Destilaria com Solúveis (em português) é obtido imediatamente após o processo fermentativo de produção de etanol, é um importante coproduto do processo de fermentação de grãos, com grande potencial de utilização para produção de rações animais destinadas à cadeia de produção de alimentos como carne e leite. Tem um preço mais acessível do que o farelo de soja e vai entrar muito bem nessa cadeia produtiva. Também pode ser usado em menores volumes para fragos e suínos. Isso demonstra que, ao contrário do senso comum, o biocombustível ajuda a aumentar a oferta de alimentos. Pessoas pensam que se usar o trigo no etanol vai faltar para o pão. Não é esse o projeto, a meta é expandir a produção, trabalhar com variedades específicas que não gerem competição com o pãozinho e fomentar a oferta de alimento primário (base da ração animal). Com esse grande desafio energético no mundo, precisamos concentrar esforços para ampliar a oferta e a produção. Esse é o foco da BSBios e o nosso projeto ara 2030 é ganhar relevância nacional e internacional. Para isso, apostamos mais uma vez no Rio Grande do Sul.