Os estragos causados pela chuva em Porto Alegre – com um volume significativo caindo em um curto espaço de tempo – podem dar a falsa impressão de que o problema da estiagem no Estado começa a se resolver. É verdade que, com 378 municípios tendo decretado situação de emergência, qualquer precipitação é bem-vinda – e necessária. Mas o tamanho do déficit hídrico e a irregularidade na distribuição, mantêm as perdas.
– No geral, a chuva ajuda a amenizar, mas não reverte quadro nenhum. E a área que mais precisa de umidade, nas Missões e Alto Uruguai, é onde choveu menos – pondera Flávio Varone, meteorologista da Secretaria da Agricultura.
No boletim do acumulado de chuva em 24 horas (a partir dos pontos onde ficam as estações meteorológicas do Simagro/Inmet), havia municípios que seguiam marcando zero milímetros de precipitação. Outros, como Campo Bom, somavam 69,6 milímetros.
O principal alívio, neste momento, vem dos termômetros. Depois de mais de 10 dias com patamar elevado, as temperaturas desceram alguns degraus. Um “respiro” para quem cria animais – sejam gado de corte, de leite, aves ou suínos. A combinação de calor e umidade relativa do ar provocaram estresse térmico, afetando o ganho de peso e, em alguns casos, levando à morte.
Na estação meteorológica da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, zona sul do Estado, a sensação térmica chegou no último sábado a 62,3°C. O engenheiro agrícola e pesquisador Carlos Reisser Junior diz que o equipamento tem sensores para cálculo de diferentes variáveis e que a tão falada sensação térmica é uma medida calculada por equação matemática. Leva em consideração a temperatura e a umidade relativa do ar, além da velocidade do vento:
– É sentida por animais de sangue quente, tanto que se viu a perda de aves, por estresse térmico. Mostra a condição extrema que vínhamos passando nas últimas semanas.
Por lá, no entanto, a chuva era praticamente inexistente: às 17h22min – os dados são atualizados minuto a minuto –, a soma era de 0,2 milímetros.
Conforme boletim semanal da Emater, os volumes de chuva foram “um alento” para a soja, “mas não o suficiente para melhorar a performance do ciclo”. Há 2% da área estimada ainda por plantar, com a maior parte das lavouras (56%) em floração e enchimento de grão.