A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os efeitos da falta de chuva seguem avançando no mapa do Rio Grande do Sul, com prejuízos já considerados irreversíveis em algumas culturas. Segundo levantamento da Rede Técnica Cooperativa (RTC), o percentual de perdas no milho sequeiro chega a 60%.
O estudo considera dados de 21 cooperativas ligadas ao projeto. As propriedades representam mais de 50% da área de soja no Rio Grande do Sul, por exemplo.
— No milho, nunca vi algo tão abrangente em termos de área. Essa estiagem pegou desde o milho semeado cedo como o tardio. Tem regiões com 100% de perdas. O pessoal precisou derrubar lavouras — analisa Geomar Corassa, coordenador da RTC.
No milho irrigado, a quebra até agora é de 13,5%. Prejuízo não só pela falta de chuva, mas também pelo forte calor, que faz com que a lâmina de irrigação não consiga dar conta, explica Corassa. Para muitos produtores o cenário já é irreversível.
Na soja, a perda projetada no levantamento é de 24%. Cerca de 7% da área estimada para o grão ainda não foi semeada. A expectativa para salvar a lavoura é a ocorrência de chuva expressiva ainda em janeiro.
— O atraso já traz a percepção de que o prejuízo existe ou vai acontecer. Mas a soja é bastante dinâmica e tudo pode mudar daqui para frente. No ano passado, tivemos atraso de semeadura, mas depois a chuva veio e a safra foi recorde. Se as coisas melhorarem, podemos ainda caminhar para uma safra razoável, mas não mais para uma safra extraordinária como a do ano passado — antecipa o coordenador da RTC.
— As chuvas, se vierem, podem até amenizar, mas não vão reverter. No ano passado, começou a chover bem antes. Os números, infelizmente, são bem realistas — acrescenta o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires.
O dirigente avalia que o momento atual faz com que o produtor inicie 2022 “melancólico”. Com prejuízos e custos altos de produção em jogo, o efeito é de um cenário complexo para o próximo ano, em que o produtor já entrará descapitalizado.
— Estamos saindo de um último ano de safra com rentabilidade boa, e agora temos uma situação que está bastante complicada. Se não tiver um bom resultado agora, na próxima safra teremos ainda mais dificuldade, principalmente em termos de custos — diz Pires.