![Renato Bairros / Agencia RBS Renato Bairros / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/7/4/1/2/2/3/1_f99d2629a765b2b/1322147_63d2f949cb5a50b.jpg?w=700)
Diante da inflação crescente, com alta de dois dígitos no IPCA em 12 meses, e da corrosão do poder aquisitivo, é compreensível que o consumidor brasileiro valorize eventuais reduções nos preços de alimentos.
Neste momento, a perspectiva de que a suspensão das exportações de carne bovina para a China se converta em produto mais barato é vista como um alívio para quem está no balcão de compras. A manutenção do embargo, no entanto, preocupa e, mais à frente pode resultar em um cenário justamente inverso.
De forma geral, os especialistas avaliam que a interrupção desse canal de vendas externo não deve se prolongar. Assim como o Brasil tem na China um relevante mercado, os chineses têm no Brasil um importante fornecedor da proteína.
– Dificilmente conseguem ficar muito tempo sem comprar carne do Brasil. Podem ganhar tempo para baixar preço. O consumo de carne bovina lá veio para ficar. Primeiro, porque ainda é muito pequeno – observa César Castro, especialista de Agronegócio do Itaú BBA.
O país asiático também não consegue ser autossuficiente na produção. Então, a menos que o governo chinês decida por uma mudança nos rumos, é uma demanda que deve se manter.
Os primeiros a sentir o impacto do embargo são os pecuaristas que criam gado confinado – realidade do Centro-Oeste e Sudeste. Porque os custos engataram alta expressiva (sobretudo nos itens da ração animal), ao passo que o valor da arroba do boi está em queda – acumula 14%.
– Neste momento, seria a saída de bois do confinamento. Produtores estão receosos de vender agora, alguns estão esperando. Se negociarem com esse deságio de 14%, terão prejuízo – explica Bruno Lucchi, diretor-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
No caso do Rio Grande do Sul, o sistema de produção é o outro – com o gado criado majoritariamente a campo. E a indefinição chinesa atrasa o período que seria de retomada, depois da queda nos valores ao produtor que ocorre em razão da maior oferta do gado que sai da pastagem de inverno.
O segundo impacto da suspensão é sentido pelas indústrias exportadoras, em especial as que não são de grande porte e têm na china parte relevante da receita. Castro pontua que já começam a ser vistos preços menores da carne que vem da parte dianteira do animal. O traseiro, onde estão os cortes mais valorizados, ainda não. Estão em estoque.
– A queda tem sido menor no preço da carne do que na arroba do boi. Para cair o valor para o consumidor, os mercados têm de baixar na mesma proporção. Em geral, cai também, mas menos – completa o especialista.
Como a pecuária de corte é feita de ciclos e tem prazos mais longos do que outras proteínas, a perda de um mercado do tamanho da China (foi destino de 52,9% do total de vendido pelo Brasil em setembro) poderia antecipar a virada do ciclo atual. Isso resultaria mais à frente em redução de oferta, o que é um complicador para o consumidor, segundo a mesma lei de oferta e procura que agora tende a derrubar os preços.
O melhor caminho é o ponto de equilíbrio que consiga contemplar as necessidades de quem vende e de quem compra.
Histórico
- O Brasil é hoje o maior exportador mundial de carne bovina. Conforme a Associação Brasileira de Exportadores de Carne Bovina (Abiec), a produção é de 10,32 milhões de toneladas. O principal destino desse volume é o mercado interno. O externo absorveu 26,07% do total.
- A hegemonia chinesa, para quem o Brasil já vendia carne bovina, veio em 2019, quando se tornou o principal destino.
- O apetite foi ampliado em razão da peste suína africana e, diante da grande procura valorizou o produto brasileiro.
- E isso se refletiu no mercado interno. No RS, o quilo do boi gordo teve alta de 16%, o que reverteu uma curva até então de queda. Entre 2016 e 2018, a cotação se desvalorizou 18%, aponta dado da Farsul.