A medida da "inflação oficial" do Brasil na metade do mês já havia assustado, mas o IPCA cheio de 0,87% em agosto, anunciado pelo IBGE nesta quinta-feira (9) surpreendeu os analistas.
Foi o maior aumento para agosto desde 2002 e não deverá ser o mais alto ano: economistas que têm o pulso dos preços projetam elevação ainda maior em setembro, quando deve passar de 10% na média nacional.
Em Porto Alegre e outras sete capitais, o IPCA acumulado em 12 meses até agosto já chegou a dois dígitos. Na capital gaúcha, ficou em 10,42%, conforme o IBGE. Em Curitiba (PR), chegou a 12,08%, o mais alto entre as cidades pesquisadas. Também ficaram com dois dígitos Goiânia (10,54%), Vitória (11,07%), Fortaleza (11,2%), São Luís (11,25%), Campo Grande (11,26%) e Rio Branco (11,97%) .
Em setembro, projeta André Braz, coordenador dos índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), a alta mensal do IPCA deve ficar em 1,02%, o que levaria a média nacional temporariamente para dois dígitos:
— A gente chega a setembro com inflação em dois dígitos. Depois, tende a recuar um pouco, mas vai depender muito do câmbio. Ontem (quarta-feira), muitos bancos de investimento foram bombardeados por pedidos de estimativa do tamanho da incerteza depois do 7 de Setembro. Querem avaliar se ficam aqui. O risco de um rompimento assusta os investidores, tanto de curto quanto de longo prazo. O de curto é mais especulativo, pula de um lugar para o outro, o de longo ajuda a sustentar nosso crescimento. Mas os dois movimentos podem trazer desvalorizações cambiais se fugirem daqui. E é a desvalorização cambial que entorna o caldo da inflação, porque tudo fica mais caro.
Braz ajustou a expectativa de inflação anual em 2o21 para 8,57%. Para o Itaú Unibanco, a projeção preliminar para o IPCA de setembro também é de 1%, com desaceleração para 0,5% em outubro e 0,35% em novembro. Conforme os economistas Guilherme Martins, Julia Gottlieb, Julia Passabom, uma elevação de 1 ponto percentual no juro na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) é "consistente com o desvio atual das projeções do IPCA com relação à meta", mas apontam "chance considerável" de a Selic "precisar subir além deste nível, dado que o risco inflacionário permanece elevado (choque de energia, gargalos no setor de bens, recuperação do mercado de trabalho formal e maior inércia inflacionária)".
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimento, caracterizou o resultado de agosto como "super-surpresa" e revisou sua estimativa de inflação para este ano de 7,5% para 8,2%. E projetou também aumento de 1,25 ponto percentual na Selic na próxima reunião. Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais, elevou a projeção para o fechamento do IPCA no ano até 8,1%. Conforme o economista, o resultado de agosto tem "viés negativo" (no sentido de pressionar o indicador) tanto por perspectivas qualitativas como quantitativas.