A jornalista Karen Viscardi é colaboradora da colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O ano de 2019 foi de boas notícias vindas da produção agrícola. A safra cheia e o avanço nas exportações do agronegócio gaúcho garantiram a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do setor em 8,64%. Em 2020, a expectativa da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) é seguir crescendo, com estimativa de alta de 7,5%. No país, a produção de grãos superou 248 milhões de toneladas, volume 7% superior à safra anterior, segundo balanço da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Para o próximo ano ser melhor não apenas em produção, mas da porteira para fora, alguns entraves precisam ser superados. Neste Natal, convidamos representantes das principais entidades do agronegócio para contarem seus pedidos para o Papai Noel.
A ideia é mostrar as demandas do grande produtor ao agricultor familiar e de setores diversos, dos grãos às carnes, de cerealistas a cooperativas.
As solicitações vão desde melhoria em infraestrutura, desburocratização, crédito para investimento, apoio à renda e manutenção da sanidade. Até pedido a São Pedro de tempo bom para garantir safra farta. Por que sonhar não custa nada e, se o Bom Velhinho decidir realizar, melhor ainda. Confira.
Avanço da economia
— Esperamos que 2020 seja uma continuidade de 2019. O agronegócio está bem, o país está melhorando, temos boas perspectivas. Mudou o governo, mudou o Brasil — afirma Gedeão Silveira Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Segundo o dirigente, o setor tem duas expectativas: a volta dos consumidores no mercado interno que o setor perdeu em razão da crise econômica, ao deixar milhões de brasileiros desempregados. Entre agosto e outubro, a taxa de desocupação ficou em 11,6%, atingindo 12,4 milhões de pessoas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Parte das perdas no país foi compensada nas exportações, detalha o presidente, comemorando o sucesso deste ano com os embarques de carnes, soja, milho e algodão.
— O maior desejo do agronegócio é o crescimento econômico e a simplificação das regras, o que já está acontecendo — reafirma.
Entre as vitórias recentes, Pereira ressalta a aprovação do código ambiental no Estado, que deve estimular novos investimentos.
Crédito para armazenagem
Papai Noel será generoso com os cerealistas se atender a um pedido antigo: a oferta de linhas de crédito para ampliação e novas unidades de armazenagem.
O presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs), Vicente Barbieri, informa que hoje há defasagem de 30% no setor. Situação que prejudica o produtor, sem local para guardar os grãos.
— Ao mesmo tempo em que a produção do Estado aumenta ano a ano, chegando a cerca de 20% em três anos, o setor não faz investimento por falta de financiamento — lamenta o dirigente.
Agora, há expectativa de anúncio do programa federal:
— Temos sinalização do Ministério da Agricultura que os cerealistas estariam incluídos no próximo plano agrícola.
Se depender da confiança do setor, 2020 será ano de retomada de investimentos.
Projeto de desenvolvimento
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS) espera que o Bom Velhinho traga um presente que beneficie toda a produção agrícola e pecuária gaúcha: a implantação de um projeto de desenvolvimento.
— Não há planejamento de 10, 20 anos. Estamos perdendo espaço em setores diversos, como trigo, leite. E até na soja e na produção bovina já não somos o principal exportador — afirma o presidente da entidade, Carlos Joel da Silva, reconhecendo que no RS não há espaço para ampliar área produtiva, como em outras regiões do país.
No campo, os trabalhadores têm problemas específicos. Entre eles está a dificuldade de acesso aos recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mais Alimentos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
— É preciso garantir renda ao produtor, para que permaneça na atividade, e infraestrutura — cobra o dirigente.
As necessidades são várias, resta saber se serão atendidas.
Ajuda de São Pedro nas lavouras
O principal pedido dos associados à Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS) é por tempo bom.
— Queremos clima favorável, o que é difícil pedir como presente — reconhece Paulo Pires, presidente da Fecoagro.
Mas além da demanda a São Pedro, as cooperativas anseiam por melhoria da infraestrutura, situação que o dirigente classifica como um desafio em razão de gargalos, entre eles a situação de vias férreas. Assim como não há trens para transporte, Pires lamenta o modal rodoviário:
— Falta estrutura de forma geral, desde município que não tem estrada para coletar leite, às rodovias de forma geral. Se o poder público não tem condições de fazer as melhorias, deve buscar alternativas, como entregar para a iniciativa privada.
Enquanto comemora o avanço na legislação ambiental, Pires reforça a necessidade de simplificar o recolhimento de impostos e a concessão de licenças.
Proteção do status de sanidade
— Deus proteja o Brasil para manter o status sanitário impecável, além de uma grande safra para termos alimentos disponíveis para todo o plantel — diz o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, quando questionado sobre o presente ideal para o setor neste Natal.
A peste suína africana, que assola a Ásia, ajudou a elevar as exportações de carnes de frango e suína brasileiras. A epidemia resultou na morte de milhões de suínos na China, maior consumidor global da proteína. Nessa segunda-feira (23), a notícia de que a Venezuela comprou carne proveniente de região da Rússia onde a doença está presente, acendeu alerta no Brasil, em razão da fronteira seca entre os dois países. Sem contar a gripe aviária, que afetou China e México no início do ano.
Para ganhar agilidade e aproveitar o mercado ávido por proteínas, Turra defende o autocontrole — onde a responsabilidade ficaria com as empresas, e o governo seria encarregado por auditorias.
Manutenção em ministério
A permanência de Tereza Cristina como ministra da Agricultura é o pedido número um da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Em um ano de trabalho à frente da pasta, já é considerada fundamental. Mas ainda há algumas demandas, em comum com a ABPA:
— Em relação à competitividade, temos uma grande dificuldade por falta de atualização da legislação. É preciso implementar o autocontrole do setor, com a consequente modernização dos sistemas de fiscalização — explica Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec.
Outra solicitação — de manutenção do status sanitário — também está em linha com o setor de produção de proteína animal.
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