A preocupação com a viabilidade financeira da cultura do arroz não é nova. Há muitas safras, os produtores vêm enfrentando adversidades. Dentro e fora do campo. Ora é o excesso de chuva que atrapalha, ora o mercado. O resultado é que as contas não fecham.
Segundo Alexandre Velho, vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS, hoje, o preço recebido não cobre sequer o custo. O valor total desembolsado, incluindo investimentos e arrendamentos, chega a R$ 48. A saca é vendida em torno de R$ 40. O valor mínimo, estabelecido pelo governo, é ainda menor: R$ 36,44.
— Estamos desfasados de R$ 4 a R$ 5 no preço mínimo. Há cinco safras o produtor tem prejuízo — afirma Velho.
As enxurradas na Fronteira Oeste e na Campanha foram a gota d’água, que fizeram o já cheio copo da crise transbordar.
Além do descompasso entre custo e valor recebido — que leva à falta de renda —, o setor tem outro grave problema. Cerca de 60% dos produtores sequer estão no sistema oficial de financiamento, ou seja, os bancos. Endividados, se veem obrigados a buscar outras fontes de recursos para fazer a safra, como indústria e fornecedores de insumos.
E é aqui que nasce outro problema. Para pagar esses empréstimos, o produtor se obriga a vender boa parte da colheita no primeiro semestre, incluindo o período da safra, quando os preços são reduzidos.
— Esse sistema atrapalha e prejudica todo o mercado — avalia Velho.
A chuva fez crescer os prejuízos da cultura e atingiu até mesmo o mais tecnificado dos arrozeiros. Para drenar a crise, que agora se consolida, será preciso medidas rápidas, mas também, outras que possam garantir a subsistência de toda categoria no longo prazo.
A não solução pode fazer chegar menos arroz à mesa do brasileiro. Porque desestimulado e endividado o agricultor não terá outra alternativa que não reduzir de forma significativa a área cultivada. E isso encolheria a produção no Estado que detém cerca de 70% do volume nacional.