O alarmante relatório sobre mudanças climáticas divulgado por um painel das Organização das Nações Unidas (ONU) traz um único elogio ao Brasil: quando fala do etanol. O documento cita o crescimento da frota flex, que inclui carros que podem ser abastecidos a gasolina ou a etanol. Só tem um porém: o etanol está escanteado no país.
Derivado principalmente da cana-de-açúcar, o combustível recebeu mesmo bastante investimento por vários anos no Brasil com projetos de estímulo do governo federal. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado em 1975. A ideia era substituir os carros movidos a combustíveis de petróleo.
Outras formas de produzir etanol começaram a ser pesquisadas. Com isso, concorreria menos com o açúcar, outro derivado da cana que, por seu valor de mercado, tem atenção especial das usinas. Aqui no Rio Grande do Sul, onde se produz apenas 2% do que se consome em etanol, chegaram a ser testadas variedades de plantas que se adaptassem ao clima.
"Mais de quarenta anos combinando tecnologia push e market pull medidas levaram à implantação de produção de etanol, transporte e sistemas de distribuição em todo o Brasil, levando a uma redução significativa nas emissões de CO2 (Macedo et al., 2008)". - traz um trecho do relatório.
Só que houve a descoberta do pré-sal, o que retirou as apostas do etanol como combustível do futuro, trazendo o petróleo novamente para o centro do palco. O papel do etanol no futuro da matriz energética brasileira ficou em um limbo. As medidas passaram a ser pontuais, sem um planejamento estratégico de longo prazo.
O preço aumentou tanto que a maioria dos carros flex, que representam mais de 80% da frota atual, não vê etanol há muitos anos no tanque de combustível. Os postos têm praticamente apenas para abastecer carros de locadora que precisam ser entregues com tanque cheio. Ainda assim, ele impacta no bolso do consumidor porque um percentual de etanol anidro precisa ser adicionado à gasolina na distribuidora.
Enquanto o etanol ficou de lado, avançam os veículos elétricos. Mas a coluna trata com ponderação esse crescimento, já que muitos estão apostando neles sem ter sua própria produção de energia, seja ela solar, eólica ou outra. É questionável a sustentabilidade de uma medida que vai demandar ainda mais do sistema elétrico nacional em tempos de escassez hídrica e risco de racionamento de energia e de água. Aliás, escassez essa que tende a piorar com o aquecimento global, para o qual a ONU também alerta. E também que não pegou ninguém de surpresa neste ano, com o pior regime de chuvas em 91 anos. Foi mais uma vez resultado de falta de planejamento.
Em tempo, às empresas, fica um apelo: dizer que adota práticas ESG, sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), não é só pintar o produto de verde. As medidas precisam ser estruturais e de longo prazo.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna
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