A expectativa é enorme para a reunião desta tarde entre entidades empresariais e o prefeito Nelson Marchezan Junior. Ela foi proposta pela prefeitura de Porto Alegre na noite de sábado, enquanto ainda acontecia a conferência online entre os empresários que entrou a madrugada de domingo e resultou na carta com termos para a retomada econômica publicada pela coluna. A confirmação do agendamento ocorreu no início da noite de domingo envolvendo as entidades que assinaram o documento, que são 22 no total. Empresários dizem querer a reabertura imediata, aceitando restrições de horários e todos os protocolos exigidos para reduzir o risco de contágio do coronavírus. Já o prefeito diz que está aberto à construção de uma proposta de flexibilização, mas sem sinalizar nada para agora já.
O que, no entanto, não se espera dessa reunião? Não considerar o impacto do futebol nesses setores econômicos que sofrem com as restrições. Sabe-se que esse "quase ultimato" se deve à liberação do futebol em Porto Alegre na sexta-feira (31). Os empresários, no entanto, não ligaram a carta ao esporte porque sabem que são coisas diferentes. Públicos e operações são diversos, assim como os impactos são indiscutivelmente diferentes na economia. Doeu para as entidades, mas principalmente para os pequenos lojistas ficarem sem previsão alguma, pagar boletos, demitir pessoas, receita zero no caixa e ouvir o anúncio da volta do futebol. Os mais otimistas chegaram a achar que, nas horas seguintes, a prefeitura também teria algo para eles. Mas isso não veio e a tensão aumentou ao longo do final de semana como vimos e certamente a prefeitura previa isso.
Também não dá para o prefeito argumentar que não recebeu apoio para o lockdown, quando propôs às entidades empresariais na metade de julho. Não foi dada garantia de efetividade nessa restrição total de atividades e, sem a estratégia de aplicação, a percepção é de que seria "meia boca", com ruas cheias de ambulantes e churrascada nas festas de final de semana. Só os "certinhos" obedeceriam ao lockdown e sangrariam (mais). Em tempo, lojas que estão funcionando ilegalmente agora também estão erradas. Não é esse o caminho legítimo. É como o sonegador de imposto que argumenta que a carga tributária é alta demais. Outros acabam pagando a conta.
Para o colega Daniel Scola, o prefeito Nelson Marchezan Junior mandou uma mensagem nesta segunda-feira (03) durante o Gaúcha Atualidade dizendo que os empresários são recebidos semanalmente e que conversam diariamente. Entidades afirmam que as reuniões não ocorrem nessa frequência e os encontros não têm evoluído na discussão. Perder tempo batendo nessa tecla é algo que não se espera desse encontro. Independente dessas duas versões, a coluna, sim, conversa diariamente com pequenos empresários e também trabalhadores. Alguns já perderam ou quase perderam familiares para essa peste que é a covid-19. Lidam com o luto ou com o medo dele, e também com a falta de dinheiro. Precisam confiar nas entidades que representam seu negócio, nas autoridades de saúde e também nos governos. Têm sim de apoiá-los. Mas precisam de transparência e informações frequentes por mais que previsões sejam difíceis com esse vírus, o que funcionaria como o "abraço" que fisicamente não pode ser dado agora. Não são 300 ou 500 pessoas envolvidas. São centenas de milhares. E o questionamento faz parte, afinal elegeram os seus representantes - nas entidades e nos governos - para isso, para a condução "na saúde e na doença".
Ainda na mensagem de Marchezan para Daniel Scola, o prefeito disse que os movimentos de líderes contra restrições não ajudam a convencer as pessoas de que existe uma doença perigosa. A volta do futebol também não. Independente da hora de voltar ou não com cada coisa, é preciso calibrar as decisões e as atenções dedicadas aos setores. Não se pode passar a sensação de que - no meio de uma pandemia, uma crise sem precedentes e necessidade de decisões técnicas - "quem grita mais alto leva", como ouvi há pouco da colega Kelly Matos, também colunista de GaúchaZH.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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