A notícia da liberação do futebol em Porto Alegre provocou o varejo, e os lojistas agora se posicionam com mais força de que é a hora de reabrir. Se o lazer está com flexibilizações e usa motivos econômicos como argumento, o comércio lista também várias fundamentações. E acrescenta ainda que é um setor de negócios de menor porte, formado essencialmente por micro e pequenas empresas, grande gerador de empregos e o que mais sofre restrições desde o início da pandemia do coronavírus. Tirando, claro, supermercados, farmácias e alguns segmentos de produtos considerados essenciais, como materiais de construção.
- Não temos mais tempo. Já temos muitas lojas abertas e é por desespero - diz o presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (SindilojasPOA), Paulo Roberto Kruse.
Para ele, a liberação do futebol ratifica esse sentimento. Diz que isso tem sido levado todos os dias - e há várias semanas - para o comitê de crise da prefeitura de Porto Alegre, que certamente sabe que a próxima reunião terá argumentos mais efusivos. E, possivelmente, menos paciência por parte das entidades empresariais.
- A prefeitura deu o circo. Agora, queremos o pão. - Leia-se: "Deram a diversão. Agora, queremos o sustento."
Essa frase foi enviada para a coluna pelo presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Sérgio Galbinski, ao receber o alerta de que a prefeitura de Porto Alegre liberou os jogos de futebol da dupla Gre-Nal. Além disso, ele já encaminhou ao governo gaúcho pedido para algumas lojas abrirem para vender o estoque de Dia dos Pais e notícia do esporte fez crescer a expectativa de flexibilização em Porto Alegre.
Outra entidade que conversou com a coluna foi a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA). O presidente, Írio Piva, admite que esperava novidades para o comércio nesta semana, considerando a proximidade do Dia dos Pais. Ficou desapontado.
- Os empresários não aguentam mais esperar, ficar de portas fechadas. Apoiamos a retomada do futebol e, da mesma maneira, o comércio se compromete em adotar todos os protocolos e oferecer segurança aos funcionários e clientes.
Se era a hora de voltar o futebol ou se é o momento de reabrir o comércio, essa discussão agora já corre em paralelo. A decisão do prefeito Nelson Marchezan Júnior foi tomada e estrategicamente bem divulgada por ele. O ponto é: voltou o esporte, não há coerência em não flexibilizar o comércio. Aliás, sobre coerência, recomendo a leitura da coluna do colega Daniel Scola, já que há duas semanas falava-se em lockdown, mesmo sem estratégia para efetivá-lo: A incoerência na volta do futebol em Porto Alegre
Atualização: E ainda sobre o assunto, a coluna da colega Kelly Matos traz a fala do prefeito de que um possível retorno de atividades vai "começar" a ser discutido nas próximas semanas: "Vamos construir possível abertura nas próximas semanas", diz Marchezan
E ainda, a carta enviada pelo Sindilojas Porto Alegre para o prefeito Nelson Marchezan Junior após o anúncio da volta do futebol:
"Como representantes dos lojistas do comércio da capital gaúcha, o Sindilojas Porto Alegre, desde o início da pandemia, tem se empenhado profundamente em encontrar soluções para a retomada das atividades de forma segura, para a manutenção dos negócios e resguardo dos empregos em meio a um cenário extremamente difícil. Para isso, primamos pelo diálogo próximo e transparente com o senhor e sua equipe em todos os momentos, colocando-nos sempre à disposição para atuarmos em conjunto pelo combate à Covid19 em nosso município. Neste sentido, auxiliamos na construção de protocolos para as lojas, envolvemo-nos com negociações de cobranças buscando a flexibilização das mesmas, e ampliamos nossas ações em busca de maior conscientização da população, especialmente no setor em que atuamos.
No entanto, sabemos, segundo dados recentes trazidos próprio Comitê de Crise da Prefeitura Municipal de Porto Alegre em reunião com nossos dirigentes lojistas realizada esta semana, que somamos hoje mais de 8 mil empregos perdidos no comércio. E o reflexo desse dado vai além desses 8 mil postos de trabalho. Está em cada família afetada, muitas vezes, pela perda da sua única fonte de renda. Em pessoas que se depararam, de uma hora para outra, tendo de viver sem condições de sustentar os direitos básicos de qualquer cidadão. Sabemos, também, que o número de encerramento de empresas cresce a cada semana que ficamos sem ter sequer uma previsão de retomada para as atividades e que, segundo uma pesquisa que realizamos há cerca de um mês, quase 70% dos empreendimentos do comércio não irão resistir se o fechamento se prolongar pelos próximos dias, o que é desesperador.
Portanto, sr. Prefeito, os números evidenciam que não há mais condições de esperar. Salientamos, em nome de todos os lojistas e cidadãos que direta ou indiretamente estão envolvidos com as atividades do comércio, que precisamos retomar nossas atividades imediatamente. Estamos muito próximos de uma catástrofe econômica e temos certeza de que o prejuízo ocasionado pelo coronavírus será ainda mais desastroso para a nossa cidade se não adotarmos, o quanto antes, uma postura diferente em relação aos negócios. O comércio, setor que representamos e pelo qual lutamos, possui todas as condições de seguir as regras para o enfrentamento da covid-19 e, portanto, não pode mais continuar sendo castigado como está ocorrendo.
Ressaltamos que a luta de todos, independentemente de categoria ou segmentação, é pelo mesmo objetivo: contra um inimigo invisível, em defesa da vida de pessoas e da sobrevivência de Porto Alegre. Sendo assim, temos certeza de que, caso haja a permissão para a reabertura segura dos negócios, lojistas, colaboradores e consumidores se empenharão ao máximo para combater juntos o coronavírus. Dessa forma, reforçamos, mais uma vez, que estamos à disposição para colaborar para a construção de alternativas para esta retomada e, certos de sua compreensão, apelamos por uma ação urgente e imediata por parte do Poder Executivo Municipal. Porto Alegre não pode parar."
O documento, ao qual a coluna teve acesso, é assinado pelo presidente do Sindilojas POA, Paulo Roberto Diehl Kruse.
Futebol
Nesta sexta-feira (31), após reunião virtual, o prefeito Nelson Marchezan Júnior comunicou à Federação Gaúcha de Futebol (FGF) sua decisão autorizar os jogos na Capital. Com isso, Arena e Beira-Rio poderão sediar as semifinais do segundo turno do Gauchão. No domingo (2), às 16h, o Inter enfrenta o Esportivo, no Beira-Rio. Grêmio x Novo Hamburgo ainda não tem data marcada.
Outras entidades foram consultadas pela coluna e terão seu posicionamento colocado aqui, conforme retornarem para a colunista.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da colunista
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