As decisões e decretos municipais, estaduais e federais, a situação do varejo no país e como a Lojas Lebes está se posicionando neste momento foram alguns dos assuntos abordados pela coluna na Live Acerto de Contas com o presidente da rede gaúcha, Otelmo Drebes, nesta quarta-feira (15). Confira trechos da entrevista:
Como está hoje a Lebes?
Lá no dia 20 de março, quando a pandemia começou e antes mesmo de saírem os decretos, nós tomamos a decisão de fechar todas as lojas, em respeito à população, aos funcionários e à situação que estava se mostrando. Logo após, fomos seguidos por várias outras empresas. Depois, algumas cidades abriram, fecharam, abriram de novo. Hoje, de nossas 160 lojas, 120 estão fechadas e 40 abertas com as bandeiras vermelhas e amarelas que têm no Estado.
E como está a situação da empresa e de outros varejistas?
A Loja Lebes é uma empresa de 60 anos e sempre trabalhou com os pés no chão. Trabalhamos para ter resultados, claro. A própria empresa se adaptou a essa situação, com prorrogação de pagamento de fornecedores, renegociação de contrato de prestação de serviço, estamos usando benefício do governo federal para pagamento da folha e todas as situações possíveis. A empresa está em um modo de espera. Não é situação para eu dizer: "se não abrir semana que vem, a empresa vai fechar". Eu não posso ter o otimismo exagerado, nem o pessimismo desesperador. Mas vejo que um grande número de pequenas empresas está com problemas graves, que estão demitindo e que fecham sem abrir novamente. Aliás, o pior disso tudo é o abre e fecha. Se tiver que ficar fechado mais uma semana, duas, não tem problema, vou apoiar. Mas não podemos fechar mais uma, duas semanas e, depois, começar a abrir e fechar loja. Não é um botão. Existe estoque, pessoas, programação para fazer. Se eu soubesse que estaríamos fechados nos próximos 3 meses, 6 meses, seria uma decisão. Hoje, não sei o que vai acontecer na semana que vem.
Confira a entrevista (começa no minuto 03:02):
E a preocupação com as mortes, presidente?
Sem dúvida, precisamos preservar a vida. Mas vemos o lojista fechado e circulação de pessoas no supermercado, posto de gasolina, loja de material de construção, agência bancária... Por que na minha loja, de mil metros onde poderiam trabalhar cinco pessoas e cinco clientes, não pode abrir? Não sei qual o interesse que há para que esse comércio não trabalhe. A indústria está trabalhando com 75% dos funcionários, mas o lojista é proibido de abrir. Se for realmente necessário o lockdown total, eu apoio. O que eu não concordo é o abrir e fechar de lojas, que parecem que as vilãs da transmissão do vírus.
Então, o presidente apoiaria um lockdown?
Eu não tenho informações e condições de dizer se o lockdown total resolve. Eu não vejo hoje uma pessoa que possa dizer: se fechar tudo, em 15 dias está resolvido o problema e vamos voltar a trabalhar. Eu não posso apoiar o lockdown porque não vejo uma entidade ou pessoa que tenha essa colocação certeira. Fechamos lá em março e estamos há 4 meses abrindo e voltando a fechar. Sou favorável à vida, mas a situação colocada não é a realidade. A ocupação das UTIs no ano passado era maior do que agora. Então, por que agora tem que fechar todo comércio?
Como o senhor vê a volta do futebol?
Os estádios não terão público, mas as pessoas vão se reunir em bares e restaurantes fechados, nas casas, em locais privados. Haverá situações com muito mais risco de transmissão do vírus do que em lojas onde pode se controlar entrada de pessoas. Sou colorado, apoio os times, mas, antes do lazer, precisamos fazer com que as pessoas possam trabalhar e viver. O desemprego está desesperador. Não é hora. Não é o momento de diversão.
Como o senhor está lidando com os decretos municipais, estadual e federal?
Vejo politização. As decisões estão sendo tomadas pensando de uma forma política. Tanto federal, estadual e municipal, falando de Porto Alegre. Vejo situações ridículas onde são tirados bancos de praça para as pessoas não sentarem. Aí, as pessoas criticam e os bancos são devolvidos dizendo que foram reformados. Parecem que estão brincando com a população. Vejo decisões pensando "como vou ter mais votos no futuro".
E as alternativas que o varejo está encontrando, como drive-thru e vendas online? Na situação da Lebes, amenizam?
A partir do momento que eu vendo na internet, ela ameniza sim. Mas todas as empresas têm um ponto de equilíbrio para trabalhar. Essas opções não resolvem a situação por mais tempo.
Quais são os cenários que vocês trabalham, se é possível prever?
É muito difícil para a empresa. A Loja Lebes tem uma programação de 3 a 5 anos para frente. Hoje, minha programação é para semana que vem. Eu não tenho condições de chegar e dizer o que vamos fazer. Temos uma filial para abrir em seguida, mas sem previsibilidade. A empresa tem 60 anos e não pode, por causa três meses de problema, se desfazer de sua essência, de seus talentos. Estamos nos preparando para que, na hora em que tivermos condição de trabalhar, estaremos bem. Mas dizer o que vamos fazer nos próximos três meses é difícil, não controlamos mais essa situação.
Algum pedido para as autoridades e entidades empresariais?
O que eu gostaria é que nossos governantes, nosso prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior, nosso governador Eduardo Leite, tenham serenidade para verificar exatamente o que ocorre. Eu apoio nosso governantes, mas acho que muitas vezes falta até uma informação mais clara do que está acontecendo.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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