Reunidas madrugada adentro neste domingo (2), as entidades empresariais construíram um novo documento com uma proposta de reabertura. Começa direcionado aos cidadãos de Porto Alegre, mas é para o prefeito Nelson Marchezan. A iniciativa foi provocada pela liberação da volta do futebol em Porto Alegre na sexta-feira (31). As entidades ficaram decepcionadas por isso ter ocorrido sem flexibilização também para o comércio e outras atividades que estão paradas como a construção civil.
Depois da fala sobre o esporte, o prefeito disse que começaria nesta semana a construir uma ideia de flexibilização para os próximos meses. As entidades ouvidas pela coluna na sexta rebateram que o diálogo sobre isso já vem ocorrendo há semanas. Com a volta do futebol, as proibições mais fortes ficam difíceis de se sustentar. E Marchezan sabe disso.
A coluna teve acesso ao documento que o prefeito acabou de receber na manhã deste domingo (2). É assinado por 22 entidades empresariais. Tanto quanto propositivo, é mais incisivo do que a “parte I” da carta, entregue há algumas semanas a Marchezan. Naquela ocasião, apresentava uma abordagem mais conceitual sobre um eventual lockdown ou novas restrições. Agora, já sugere dias e horários de funcionamento das atividades.
A coluna conversou rapidamente com algumas entidades que assinam o documento. Coordenador-regional da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Eduardo Oltramari disse que não há mais tempo para essa construção que levaria semanas, segundo sinalizou o prefeito. Para ele, a aplicação tem que ser imediata considerando a situação dos setores, o varejo em especial.
— Não cabe mais demagogia, como se apenas o poder público se preocupasse com vidas. Isso leva a decisões políticas e partidárias. Todos tomam os cuidados e se preocupam com a vida. E também com o sustento das pessoas — afirmou Oltramari .
Presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (SindilojasPOA), Paulo Roberto Kruse respondeu à consulta da coluna com um posicionamento bastante semelhante. Na sexta, o empresário já tinha mencionado que a situação estava desesperadora, e que este era o motivo que levava algumas lojas a abrirem mesmo nas restrições:
— Gostaria de salientar a convergência das entidades com o objetivo de atender os anseios da saúde e da economia, para manter a saúde das pessoas e das empresas que dão sustentabilidade para a vida.
Já o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Írio Piva, contou para a coluna que foram três reuniões para chegar ao documento final:
— Mas as entidades estão cada vez mais unidas, e isto é muito bom. Precisamos de união neste momento, tanto para combater o vírus, quanto para encontrar saídas para a economia.
O texto não faz menção à volta do futebol, mas foi esse, sim, o gatilho para que houvesse essa reunião de horas entrando a madrugada no final de semana. Ainda na sexta, a coluna publicou um texto avisando que a prefeitura “deu o circo” e que agora o varejo “queria o pão”. Ainda enquanto acontecia o encontro que construía o documento, as entidades receberam o convite para uma reunião nesta segunda-feira (3), às 15h, com o prefeito. No início da noite de domingo, o encontro foi confirmado.
A carta é assinada por Abrasce, Abrasel, Aclame, Acomac, ADCE, ADVBRS, AEHN, Agas, ALSHOP, ACPA, CDLPOA, Fetransul, ICF, LIDE, Sindha, Sindilojas, SecoviRS, SincodivRS, SindusconRS, SinepeRS, Sergs e Sulpetro.
Confira abaixo o documento na íntegra:
"Aos cidadãos de Porto Alegre-Parte 2
Vivemos há mais de 4 meses com atividades restritivas aos hábitos e costumes da sociedade porto alegrense, entre os quais, o livre arbítrio de trabalhar, comprar e vender. Neste período o poder público teve tempo e a verba necessária para dotar nossa cidade de estrutura física e de pessoal para o atendimento médico da população atingida pela pandemia.
Temos agora que buscar medidas também para a preservação de nossa economia, quer pessoal, familiar ou empresarial, sem as quais não teremos condições de manter a luta contra este vírus e em defesa da vida.
Considerando a necessidade de manter os cuidados para diminuir a aglomeração das pessoas no transporte público e procurando minimizar as possiblidades de contágios, apresentamos as seguintes medidas, numa primeira fase, que urgem serem tomadas, sempre mantendo o diálogo com as partes envolvidas para novos ajustes:
1- A abertura do comércio, independentemente do seu porte, nos seguintes horários: comércio tradicional (de rua) das 9 h às 17h e dos shopping centers das 12 h às 20 h;
2- Abertura de bares e restaurantes nos horários de 11h às 22 h.
3- Atendimento dos prestadores de serviços em período único das 10h às 16
h, excetuando as instituições de ensino que atenderão os termos acordados com o Governo do Estado
4- Liberação das atividades na Construção Civil, igualando as obras públicas e privadas, no horário das 7h às 17h
5- A ampliação dos horários de atendimento das atividades essenciais e a flexibilização dos estacionamentos para minimizar eventuais concentrações e aglomerações.
Os protocolos de saúde, que protegem os trabalhadores e clientes do covid-19, serão rigorosamente seguidos, cobrados e difundidos por nossas entidades, buscando uma conscientização cada vez maior de nossa população.
Frente ao acima exposto é imperioso que o poder público decrete a retomada inadiável e imediata das atividades econômicas. Estamos abertos a um processo construtivo, sob pena de ruptura dos canais de interlocução e do colapso do sistema econômico e; por conseguinte, da saúde de toda a população.
Porto Alegre, 1° de agosto de 2020"