Nas reuniões internas da prefeitura da Capital, há uma clara mudança de tom em relação à estratégia para enfrentar a pandemia. O governo municipal continua estudando restrições – novas medidas devem ser publicadas até sexta-feira (31) –, mas com uma preocupação adicional: é hora de dar alguma perspectiva para a população.
Secretários, vereadores da base aliada e o próprio prefeito Marchezan concordam que a sociedade dá claros sinais de exaustão. É unânime a avaliação de que é preciso, o quanto antes, apresentar prazos sobre quando – e com quais limitações – as atividades voltarão a funcionar. Porque, do jeito que está, sem a menor noção de futuro, fica inclusive mais difícil contar com a cooperação das pessoas no cumprimento das restrições.
Esse ponto, aliás, tem sido abordado em todas as reuniões: as medidas restritivas surtem cada vez menos efeito. É grande o número de comerciantes que burlam as regras de norte a sul da Capital. Autônomos e profissionais liberais, como cabeleireiros, pararam de atender em seus locais de trabalho, mas agora estão visitando clientes.
Quase ninguém faz isso de má-fé. A questão é que, no entendimento da prefeitura, já chegamos a um limite, não só mental e emocional, mas econômico. Marchezan e os secretários têm certeza de que o ideal seria um lockdown: com todos trancados por 14 dias, a curva de contágio provavelmente achataria, as UTIs ganhariam fôlego e, ao final desse prazo, o afrouxamento nas restrições seria natural. Mas, se nem as regras atuais são respeitadas, que dirá uma medida tão drástica.
– A paciência, o dinheiro, a compreensão das pessoas, tudo isso está acabando. Nosso maior desafio é dar um norte para a sociedade, é prever quando esse inferno vai começar a passar – diz um membro do governo.
Marchezan ainda vai aguardar alguns dias antes de estabelecer esse pacto com a população – o ideal seria que, até o início da semana que vem, a ocupação dos leitos de UTI apresentasse um recuo consistente. Se isso não ocorrer, o prefeito deve divulgar alguns prazos de retomada das atividades em, no máximo, duas semanas.
Técnicos da prefeitura estudam a ideia de intercalar os horários do comércio: algumas lojas abririam pela manhã e fechariam no início da tarde; outras abririam no início da tarde e fechariam à noite. Uma série de outras hipóteses está em debate – a preocupação maior é justamente o comércio, já que setores como indústria e construção civil, quando foram liberados, interferiram pouco na aceleração do contágio.
Por mais paradoxal que pareça, a próxima medida será de restrição: até sexta-feira (31), trechos de ruas como a Voluntários da Pátria – que ainda mantêm alta circulação a pé – devem ser interditados.