A prefeitura quer, sim, o lockdown em Porto Alegre. Só que a avaliação interna é de que, se fizesse isso hoje, não funcionaria.
A sociedade só aceitaria ficar trancada em casa, sem poder sair de carro nem a pé, em um único cenário: com o sistema de saúde colapsado. Com gente morrendo por falta de atendimento. Aí, sim, sentindo o bafo da morte na nuca, ninguém iria para a rua. Foi assim na Espanha e na Itália, onde o lockdown funcionou.
Essa é a avaliação na prefeitura. Se a restrição total fosse adotada agora, portanto, a desobediência civil tenderia a ser grande. Haveria enfrentamento nas ruas com fiscais e policiais. Afloraria um sentimento de opressão, um sentimento de fúria contra o governo, que mais atrapalharia do que ajudaria o poder público.
Mas o prefeito Marchezan aposta em uma estratégia. Seria a única forma de implantar o lockdown antes do colapso na saúde: padronizando o discurso. Ou seja, além da prefeitura, os grupos que representam a sociedade civil teriam de comprar a ideia. Especialmente as entidades empresariais.
O que temos hoje é o seguinte: hospitais pedem lockdown, comerciantes pedem liberações e, no meio disso, o governo tenta convencer a população de que o isolamento precisa ser maior. Quer dizer: cada um diz uma coisa.
Marchezan acredita que, se os empresários entendessem que o lockdown seria bom inclusive para eles – porque, conforme a prefeitura, quanto antes a crise for debelada, antes as atividades vão abrir –, a sociedade talvez topasse o sacrifício. Porque o discurso seria uniforme. Porque nem os mais prejudicados contestariam a rigidez da medida.
Na reunião desta sexta-feira (17), as entidades empresariais ficaram de pensar sobre o assunto. Se toparem, o lockdown deve começar nos próximos dias.