Leitores e ouvintes têm duas perguntas frequentes sobre a pandemia em Porto Alegre. A grande campeã: por que não foi erguido um hospital de campanha?
Costumam sugerir o Beira-Rio, a Arena ou o Anfiteatro Pôr do Sol como sede para as tendas. E argumentam que, se a estrutura estivesse em pé, não estaríamos à beira do colapso. Não é bem assim.
O professor de epidemiologia Jair Ferreira, da UFRGS, lembra que os hospitais de campanha abrigam basicamente leitos de enfermaria – ou seja, recebem pacientes sem maior gravidade. Esse tipo de atendimento, menos complexo, não é um problema na Capital. O gargalo, cada vez mais preocupante, está nas UTIs.
– Até se pode montar UTIs em hospitais de campanha, mas o nosso problema nem é espaço físico, é falta de pessoal. Não existem no mercado médicos intensivistas suficientes – analisa Ferreira.
Outra pergunta recorrente: por que o Hospital Parque Belém, na Zona Sul, não está aberto para acolher doentes? A instituição encerrou as atividades em 2017, quando a mantenedora alegou dificuldades financeiras.
– Era um hospital privado que, nos últimos tempos, não cumpria metas do contrato com a prefeitura para atender pelo SUS – diz o secretário municipal adjunto de Saúde, Natan Katz.
Em março deste ano, a estrutura disponível no local – camas, respiradores, desfibriladores, bombas de infusão – foi transferida para outros hospitais da cidade. Natan avalia que, se é para investir dinheiro público, que seja em instituições que dão retorno.