O programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com Juliana Guterres, lojista, dona da Meia & Cia, no centro de Canoas, e empresária que também atua no segmento de distribuição. Ela teve o melhor mês de maio em vendas em cinco anos no meio de uma pandemia, o que chamou a atenção da coluna. No divertido bate-papo, feito em uma transmissão ao vivo no Instagram de GaúchaZH, também conversamos sobre dicas de tecnologia para pequenas e médias empresas adotarem durante a crise. Confira:
Qual a estrutura do negócio?
Eu tinha duas lojas, mas fechei em definitivo uma agora em Gravataí durante a quarentena. Meu pai tem uma distribuidora da Lupo que atende todo o Rio Grande do Sul, oeste e litoral de Santa Catarina. Estamos vindo com site, com consignado, com mala, venda porta a porta, uma série de outras coisas. O negócio fisicamente diminuiu, porque encerramos uma operação física, mas aumentou para fora da loja sem necessidade de ter a estrutura.
Como identificou a situação que estamos enfrentando agora? Quando viu que ela estava chegando aqui?
Na verdade, eu não identifiquei, eu "fui identificada". Trabalhamos juntos na família e, logo quando fechamos, fomos para casa porque meu pai é idoso e diabético. Demos férias para todos os funcionários. Eu fiquei uns 10 dias em casa acompanhando as notícias, mas bem relax. Tínhamos uma gordura para queimar. Depois, a galera começou a chamar. Tomei cuidado no início porque acho que oportunidade e oportunismo são coisas que andam muito perto, e eu vi uma galera usando rede social de uma forma que eu não gosto.
De que forma?
Assim, a situação está ruim para todo mundo, seja financeiramente, seja de saúde. Eu não gosto de ficar empurrando venda, coagindo cliente a levar mercadoria. Ou, também, tem um outro grupo que fala "me compra, me ajuda, que eu tô precisando". Ficamos 15 dias sem faturar R$ 1, mas, quando voltei a trabalhar, eu voltei mesmo. Quem está do outro lado não precisa saber que eu estou mal, que estou decepcionada. Trabalhamos sempre com uma energia muito legal, e esse é um dos segredos.
Vamos contar a história das malas?
Começamos a nos dar conta de que as pessoas não poderiam vir até a loja, que é dentro de galeria, e não vendemos fiado. Então, começamos a levar a mercadoria para os clientes em sacolas. Pensamos depois em mandar malas melhores e fui atrás de lojista que estava fechado. Encontrei a Rose e comprei nove malas, que eu vendi depois para outros comerciantes na mesma situação que eu. Esse é outro segredo da quarentena: a cooperação, a parceria. Já vendi as malas da Rose e preciso comprar mais.
Como está fazendo para descontaminar as coisas?
Passamos álcool até por dentro do olho! O que temos feito agora na loja que reabriu: evitamos fazer troca e não se experimenta a roupa. Aliás, o provador está tomado de mercadoria. As malas que voltam, porque as pessoas experimentaram as coisas em casa, e ficam um tempo em um cantinho. Mexemos depois de um tempo.
Além das malas, que outros métodos adotou?
Estamos fazendo um site agora e vamos rever a tecnologia. Temos investido muito no Instagram e, principalmente, no WhatsApp.
Houve erros nessa caminhada? Problemas?
Erramos por estarmos muito desorganizados. Querer atender todo mundo. Realmente, mandamos muita mala para rua, e, no início, era tudo anotado em um papel. Passa venda, corre, entrega, estávamos jogando em todas posições. Eu estava trabalhando das 9h até meia noite. Entramos em casa de cliente, o que não recomendo, não só pela função de pandemia, como também de segurança. Agora, estamos pensando em como fazer isso.
Deve ter muita indicação de cliente, não?
Muita. Agora, eu moro em um condomínio que tem 1.450 apartamentos, ou seja, 1.450 oportunidades de realizar vendas. Me colocaram em todos grupos de condomínio. Um vizinho indica para outro, que indica para outro.
Teve, então, o melhor maio em cinco anos, em plena pandemia. Isso?
Sim. Bati dois recordes de venda, sexta e sábado de Dia das Mães. Nunca, em cinco anos de loja, vendemos tanto. Foi o triplo dos três anos anteriores e está "tri bom". Não acho que seja só por causa dos pijamas, mas por experiência, atendimento e relacionamento. Eu deixei de atender muita gente, tinha WhatsApp não lido, Instagram não lido. Meu amigo, que também tem e-commerce, falou que eu deveria contratar outra pessoa para atender. Eu falei que ele estava coberto de razão, mas, por outro lado, eu acho que o nosso diferencial nunca vai ser o produto. Somos nós. Falávamos sobre capitalismo consciente. Dói muito não conseguir vender porque não tem braço, mas, em contrapartida, eu acredito em um trabalho bem construído agora para seguir galgando. A crise vai acabar, a pandemia vai terminar, e vamos seguir aqui, fazendo bem feito.
Aposta na continuidade dessa alta de vendas?
Assim, acho que foi um movimento ilusório. Muita gente vindo para rua porque estavam sem sair. Começou o frio, virada de coleção e teve Dia das Mães, além do 13º dos aposentados. Tendo a crer que isso não será para sempre e vamos com cuidado.
E está fazendo investimento agora?
Sim, pesquisando tecnologia, startups. A Simbio, que é da venda consignada. A Suitshare, que ajuda com WhatsApp. Saipos, que é solução para restaurante. Para nós, estamos vendo site e programa de fidelidade, onde o cliente pontua e troca por desconto. Às vezes, achamos que tecnologia é algo que está muito distante. Procurem a Associação Gaúcha de Startups, procurem o Instagram do Comunidade RS, que é o grupo de empreendedores digitais do Rio Grande do Sul (dos quais Juliana Guterres faz parte). Tem muita tecnologia bacana, muita gente oferecendo em uma rede de cooperação para ajudar outras pessoas.
Eu percebo essa relação de vocês com as startups. Lojista apresenta uma necessidade para a startup, e ela desenvolve a solução. Com os dois criando juntos, o serviço sai mais adequado, não?
Sim, e há coisas que são baratas. Muita solução legal mesmo. Coisas que podem ajudar os pequenos e médios varejistas a otimizarem seus processos e suas granas.
Qual o contato de vocês (o pessoal estava pedindo em tempo real durante a Live em GZH)?
O Instagram é o @meiaecia. Pode também ligar para cá, no 51.3032.3030. Estamos no centro de Canoas, na galeria Via Porcello.
Tem um pessoal perguntando em qual loja comprou as malas...
Foi na Kouros. Podem procurar a loja da Rose, que ela dá uma força. Isso foi uma coisa que aprendemos muito. Como fomos entregar na casa de cliente, descobrimos vários que fazem coisas muito legais. Compramos doces, cheiros personalizados e máscaras, e colocamos dentro das malas. Conversamos com um, com outro, e encontramos soluções.
Ouça parte da entrevista no programa Acerto de Contas. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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