A coluna tem ouvido atentamente os relatos de empresários que conduzem grandes companhias para saber como estão vendo a pandemia e agindo durante essa crise, considerada sem precedentes. Afinal, eles são inspiração para outros executivos, para pequenos empresários e até mesmo para sinalizar aos trabalhadores o que vem por aí.
Um posicionamento bastante interessante é do CEO da Quero-Quero, Peter Furukawa. A empresa tem um forte plano de expansão, querendo aumentar das cerca de 340 para 600 lojas, está construindo centros de distribuição e planeja o IPO, que é a abertura de capital para ter ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3. A rede de varejo de materiais de construção é do fundo de investimentos Advent e tem sede em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre.
Funcionários não querem que o negócio vá para o beleléu"
CEO DA QUERO QUERO, PETER FURUKAWA
Peter Furukawa conta que, quando percebeu que isso ocorreria em algum momento, pediu que a equipe projetasse um cenário de 2,5 meses de lojas fechadas, mesmo que algumas operações tenham seguido em funcionamento. A Quero-Quero gera 6 mil empregos e montou rapidamente um comitê de crise. O executivo, então, "fechou o caixa", referindo-se ao "cofre" da empresa, claro:
- Fechei o cofre e a chave está comigo. Sou eu que vejo, linha a linha, o que será pago. E a diferença entre uma empresa grande e uma pequena são só os zeros. A dor de cabeça é a mesma. Talvez a minha seja até menor.
Segundo ele, a prioridade é caixa e a descentralização da equipe, para que todo mundo fique em casa.
- E todo mundo significa todo mundo.
A Quero-Quero é uma rede de varejo, mas também atua bastante com o braço financeiro. A empresa tem 3 milhões de cartões e esse foi um desafio. Era necessário manter os meios para as pessoas pagarem suas faturas e manterem o acesso ao crédito. Inicialmente, a empresa montou um esquema para coletar os pagamento na casa do cliente. Depois, houve a possibilidade de abrir uma área das lojas para receber o pagamento.
- Há um corredor só para o pagamento, com medidas de segurança, clientes ficam a 1,5 metro de distância e isso começou a normalizar o fluxo de pagamento.
Furukawa também ressalta a importância da formação da equipe e a motivação, dizendo para eles que é o "momento da verdade". Faz duas reuniões diárias de 15 minutos com os diretores, que fazem o mesmo com seus gerentes e assim por diante.
- Isso vai passar e não será em dois, três ou quatro anos. Não é uma guerra mundial. É algo de 60 ou 90 dias. No final, a maioria vai sobreviver. E todo mundo quer que você sobreviva, shopping, fornecedor, cliente e governo. Ninguém quer que você morra. Os funcionários não querem que seu negócio vá para o beleléu. Se algum fornecedor quer passar o momento sem sofrer, sem compartilhar suas perdas, não vai. Todo mundo tem que deixar um pedaço na mesa agora.
Segundo o CEO da Quero-Quero, é hora de acionar o módulo de sobrevivência. O importante é não deixar os menores quebrarem. A empresa não tem acesso às linhas de crédito que o governo federal está lançando para pequenas e médias empresas, já que fatura mais de R$ 2 bilhões ao ano, mas sugere que os demais empresários fiquem de olho e sejam os primeiros a usar o dinheiro disponibilizado pela Caixa Econômica Federal.
Em uma transmissão da empresa Anlab, o sempre antenado José Roberto Resende provocou Peter Furukawa para dar uma dica aos demais empresários na linha "barriga no balcão", um termo bastante usado no varejo. O CEO da Quero-Quero respondeu:
- Seja realista. Não fique achando que o Brasil será pior ou melhor. Assuma o cenário de dois meses fechados. Lembre-se que todo mundo quer que você continue. Daqui a dois ou três meses, estaremos caminhando de novo.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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