A sexta-feira continua positiva no mercado financeiro. Na abertura do pregão na bolsa de valores de São Paulo, a B3, a alta é de cerca de 2,5%. Já próximo dos 80 mil pontos, o Ibovespa só não acompanha os Estados Unidos pelas tensões internas no cenário político. Os contratos futuros de Nova York indicam uma abertura bem positiva. O presidente Donald Trump falou sobre a possibilidade de reabertura da economia em um mês, mas o destaque vai para as expectativas em torno de um novo tratamento para a covid-19.
As bolsas asiáticas fecharam no positivo. Na Europa, a valorização é ainda maior. Uma notícia que saiu à noite passada animou a comunidade científica e também o mercado financeiro. Foi publicado um relatório da Gilead Sciences informando que um dos medicamentos fabricados pela biofarmacêutica mostrou resultados promissores no tratamento de pacientes com covid-19. É um remédio experimental de remdesivir. Os mercados futuros dos Estados Unidos tiveram um salto de imediato e as ações da Gilead chegaram a disparar 16%.
- A alta de 2% na bolsa de São Paulo nos parece adequada. Em uma situação normal, deveríamos subir mais, mas os ataques e contra ataques de Bolsonaro e Maia pesam contra. E ainda tem esse risco do empréstimo compulsório na pauta da semana que vem, o que seria uma medida desalentadora - acrescente Wagner Salaverry, sócio da gestora de fundos Quantitas Asset, de Porto Alegre, sobre a proposta que prevê que até 10% do lucro das empresas com patrimônio superior a R$ 1 bilhão seja destinado ao combate ao coronavírus.
À noite passada, o presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, durante entrevista para a CNN Brasil. Bolsonaro reclamou do projeto que aprovado na Câmara dos Deputados que conceda da União a ajuda Estados e municípios, e afirmou que o Executivo precisa de contrapartida. Também à CNN Brasil, Rodrigo Maia disse que o objetivo de Bolsonaro era "mudar de assunto" depois da troca no Ministério da Saúde.
Ainda sobre o remdesivir
Em um hospital de Chicago (EUA), o tratamento em 113 pacientes em estado grave trouxe resultados rápidos de recuperação. Dois deles morreram. Os testes estão em curso e uma parte importante do estudo deve ser finalizada ainda em abril, com aplicações mais complexas do tratamento e que trazem segurança maior de uso. Na semana passada, o New England Journal of Medicine publicou análise apontando melhora clínica de pacientes tratados com o medicamento.
Sempre ponderado em relação a tratamentos contra o coronavírus, como a cloroquina, o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) e professor da Feevale, Fernando Spilki, vê positivamente o remdesivir, criado para tratar o ebola:
- Já está dando certo em outros locais. É um antiviral, combinado com terapêutica anti-inflamatória.
E o especialista, que integra um comitê de estudos do coronavírus no Ministério da Ciência, complementa:
- O remdesivir é um antiviral que já foi inclusive testado antes para outros betacoronavirus, já havia demonstrado eficácia em testes para MERS em macacos. Não é surpresa que estava apresentando bons resultados pra SARS-CoV-2. Também tem evoluído o conhecimento dos mecanismos que levam à forma crítica da COVID-19 e o manejo da resposta inflamatória parece ser outro elemento importante nesses casos. Mas tudo isso ainda precisa de mais estudos e, para isso, estão sendo testados diferentes fármacos, em diferentes estágios da doença.
Spilki defende que o ensaios clínicos precisam ainda ganhar escala para demonstrar de fato eficácia. Ainda assim, reforça que a droga já tem um histórico promissor no tratamento da infecção desse grupo de vírus in vitro e em modelos experimentais.
- É a mesma coisa que foi proposta essa semana pelo Ministério da Ciência para a medicação que será tratada no Brasil. Precisa de testes confiáveis, de larga escala, randomizado. Aí, vai se poder confiar completamente.
A coluna também questionou Spilki sobre os efeitos colaterais, já que essa é a ponderação mais forte feita atualmente contra a cloroquina:
- É difícil comparar. Primeiro, porque ainda são estudos com poucos pacientes, o desenho varia e muitos pacientes têm comorbidades. Mas no estudo feito em Manaus (AM) pela rede brasileira CloroCovid-19, os efeitos colaterais graves ocorreram dependendo da dosagem - informa o presidente da SBV.
Outros motivos para otimismo de investidores
Há ainda outros motivos que animam os mercados. Ainda sobre a fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indicando já como será a reabertura da economia norte-americana, como já vem também sendo sinalizado por autoridades da Europa. Mesmo que Trump tenha falado antes da divulgação de um novo recorde de mortes pela covid-19 em 24h.
Além disso, apesar de forte, a queda de 6,8% no PIB da China ainda ficou longe dos 10% de recuo que eram projetados por alguns analistas. Também a produção da indústria chinesa em março caiu 1,1%, ou seja, com bem menos intensidade do que se esperava. A China reabriu fábricas, lojas e outras empresas, mas ainda deve levar meses para que a atividade retorne ao ritmo normal de produção já que o consumo segue reprimido. Tanto entre os chineses quanto no resto do mundo que importa produtos do país.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Siga Giane Guerra no Facebook
Leia aqui outras notícias da colunista