Nesta quinta-feira (16), o governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou a manutenção do fechamento de escolas e serviços não essenciais no Estado norte-americano até 15 de maio e determinou que a população use máscaras de proteção em todos os locais públicos. Até o momento, Nova York tem mais de 12 mil mortes pela covid-19, com 606 óbitos nas últimas 24 horas, menor número registrado nos últimos 10 dias. Foi sobre esse cenário que um grupo de médicos trocou informações e experiências nesta tarde, durante a live webinar "A Experiência de Nova York: covid-19 e Doenças Cardiovasculares", promovida pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
Abrindo a conversa, o professor do Albert Einstein College of Medicine João Fontes apresentou um pouco da sua experiência de trabalho no Montefiore Medical Center, hospital no distrito nova-iorquino do Bronx. Conforme observou, um dos maiores desafios da doença são as pessoas assintomáticas, que mesmo sem apresentar nenhum sintoma têm a capacidade de transmitir o vírus.
— Isso faz com que o controle da disseminação seja mais difícil — apontou.
Embora os números ainda sejam altos, a boa notícia é que, nos últimos três dias, a quantidade de hospitalizações caiu, seguindo a queda no número de casos, disse o médico.
Com diversas experiências para compartilhar, o diretor de Cardiologia Intervencionista do Montefiore, Mohamed Azeem Latib, elencou algumas das estratégias adotadas pelo governo a fim de minimizar a crise do coronavírus.
— Uma das primeiras ações do Cuomo foi fazer com que os hospitais privados passassem a responder para o governo. Foi criar uma liderança capaz de olhar para o todo e ver as melhores decisões para a região — destacou, sobre a decisão do Estado de dividir equipamentos, equipes, informações e pacientes entre instituições públicas e privadas.
Latib também bateu na tecla do uso de equipamentos de proteção individual (EPI) por todas as equipes que atuam dentro de hospitais e citou o exemplo de um paciente que chegou ao Montefiore sem tosse, nem febre, mas horas depois testou positivo para coronavírus.
— A equipe que o tratou não usou os EPIs adequados e, quando o resultado dele foi positivo, todos ficaram muito preocupados. Por sorte, ninguém foi infectado. Mas isso mostra que é preciso tratar todo e qualquer paciente como suspeito de covid-19. Não fizemos isso bem antes — avaliou o médico, que antes da crise vivida nos Estados Unidos já havia trocado experiências com colegas italianos.
Como o encontro também objetivava discutir doenças cardíacas durante a pandemia, Latib e Miguel Alvarez, também cardiologista do Montefiore, apresentaram casos de pacientes que chegaram à instituição com indicativos claros de problemas cardíacos e que, mais tarde, testaram positivo para o coronavírus.
— O primeiro paciente parecia um típico caso cardiológico, que nem suspeitavam de covid-19, e depois descobriram que ele teve uma inflamação no coração pelo vírus. Os primeiros exames deram negativos, chamando a atenção para como a gente já tem que se preparar e pensar nisso quando atender os pacientes — observou a chefe do Serviço de Cardiologia, Cirurgia Vascular e Cardíaca do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Anne Polanczyk.
— E o segundo caso era de um paciente que não se esperava ser coronavírus, pois parecia infarto. O que eles chamaram a atenção foi em como preparar as estruturas cardiológicas, desde a emergências, os ambulatórios, a triagem até o laboratório de cateterismo, para ter, como eles fizeram, uma ala covid-19 positivo e outra negativo. Foram várias dicas que vão orientar nossas condutas — avaliou Carisi, citando a divisão física que foi feita no hospital americano para receber pacientes infectados e não infectados.
Importância das pesquisas
Fontes também apresentou alguns estudos que são conduzidos em busca de um medicamento capaz de tratar a covid-19 com eficácia. Porém, ressaltou que alguns resultados obtidos até o momento são apenas indicativos de bons caminhos. Ele mencionou os testes com uso compassivo de Remdesivir — droga criada para tratar ebola, mas que ainda não foi aprovada—, Kaletra (Lopinavir/ritonavir) — criado para o tratamento de HIV — plasma e também drogas esteroides.
— Estudos precisam ser conduzidos para avaliar se os medicamentos funcionam e em qual fase da doença devem ser administrados — acrescentou.
Na ausência de respostas concretas, disse Carisi, a troca de experiências, como ocorreu durante a live, cresce em importância.
— É uma oportunidade para ver como eles estão enfrentando os obstáculos e trazer isso dinamicamente para a nossa realidade se for o caso em um futuro próximo. Na medicina, estamos acostumados a usar experiência através da leitura dos artigos, esperar os estudos e isso, às vezes, são meses, anos para chegar a informação aqui. Mas nessa pandemia a necessidade é de dias, horas de diferença.