O dólar comercial bateu R$ 4,50 no final da manhã desta quinta-feira (27). A moeda oscilava desde a abertura do mercado, mas atingiu, então, um novo recorde nominal histórico e o que se chama de barreira psicológica. Logo depois, recuou um pouco, mas a pressão segue.
O avanço do coronavírus aumenta a aversão ao risco no mercado financeiro. Os investidores buscam ativos de menor risco. Entre eles está o dólar, o que provoca uma valorização mundial na moeda. Aqui no Brasil, o juro baixo da economia inclusive reduz a atração de dólares. Também há uma fuga de investidores para o ouro e para títulos do tesouro norte-americano.
Na abertura, era negociada a R$ 4,46. Já estava maior do que no fechamento de ontem, quando a bolsa de valores de São Paulo, a B3, após a pausa do Carnaval. A cotação de fechamento foi de R$ 4,44, com alta de 1,15%, que só não foi maior porque o Banco Central fez intervenções durante a tarde para evitar a disparada.
Pelo mesmo receio de avanço da epidemia, a bolsa de valores de São Paulo, B3, tem mais um dia de queda. O recuo no início da tarde girava em 2%, lembrando que o Ibovespa já tinha caído 7% no pregão de ontem, que foi mais curto por ter começado somente às 13h. Ações de companhias aéreas, com os cancelamentos de viagens, seguem com as piores perdas. Destaque também para a desvalorização a Ambev, fabricante de bebidas que teve um desempenho inferior ao esperado em 2019 e sua controladora, a AB Inbev, reportou queda de US$ 285 milhões no primeiro bimestre com queda no consumo motivada pelo coronavírus.
E agora?
É provável que o Banco Central faça novas intervenções para segurar o câmbio. A autoridade monetária visa evitar que o impacto do dólar chegue na inflação agora que o preço da carne recuou, permitindo um alívio nos índices do início de 2020.
O impacto não é maior porque o petróleo está caindo no mercado internacional, com a projeção de desaceleração da economia global. Com isso, ameniza o repasse do câmbio para o preço dos combustíveis nas refinarias, onde a Petrobras define ajustes no diesel e na gasolina com base no preço da commodity e no dólar.
Casas de câmbio
O dólar comercial é referência para cotação turismo. Nas casas de câmbio de Porto Alegre, a coluna encontrou valores entre R$ 4,63 e R$ 4,69.
Feita em sete estabelecimentos, a simulação considerou uma compra de US$ 100, considerando tanto dinheiro em espécie quanto no cartão pré-pago. As modalidades têm alíquotas diferentes de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Reflexos nos preços
Vice-presidente do Sindicato das Panificadoras do Rio Grande do Sul (Sindipan-RS), Arildo Bennech Oliveira é um dos empresários preocupados com a escalada do dólar. O trigo que usamos para fazer pães, bolos, massas e biscoitos é importado. Os moinhos, que fazem a farinha, já tinham anunciado novo aumento para março, que vai de 10% a 15%, diz o executivo. E muito do grão vem da Argentina, onde os produtores estão evitando vender agora apostando em novas altas do dólar.
— Se tem trigo na mão, tem dólar. Se vende, tem peso. Então, estão esperando para vender depois — diz Oliveira.
Diretor do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (SindilojasPOA) e dono da rede de lojas de roupas Ishtar, Carlos Klein que está antecipando a compra de vários tecidos sem produção de similares no Brasil. O medo é de falta de matéria-prima, mas já sabe que pagará com dólar mais caro.
— Por enquanto, não vamos repassar o aumento. Mas a informação é que na próxima compra vamos pagar mais. Em alguns casos, bem mais. Além da queda na oferta desses tecidos, em função da suspensão de embarques, e do aumento do dólar, os custos estão aumentando na China — acrescenta Klein.
Impacto do coronavírus nos negócios
Mais cedo, a coluna publicou um compilado do impacto do coronavírus nos negócios de grandes companhias mundiais, mas também em pequenos negócios do Rio Grande do Sul. Confira: Da maior fabricante de cerveja do mundo ao lojista de Porto Alegre, veja o impacto do coronavírus nos negócios
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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