Pela primeira vez, desde o primeiro registro de coronavírus, em 8 de dezembro de 2019, há mais casos novos fora da China do que na China. Nesta quarta-feira (26), cinco novos países passaram a lidar com a doença – agora, são 40 nações. O cenário indica que a epidemia ganha força no mundo, mas desidrata na China.
De terça-feira (25) para quarta, surgiram mais de 871 casos em 36 países, enquanto que apenas a China registrou 412 novos pacientes com a doença, segundo informações mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). A imensa maioria dos casos na Europa nos últimos dias têm ligação com a Itália. São mais de 81,1 mil casos no mundo e 2.761 mortes.
Cinco novos países registraram casos da doença, segundo o jornal britânico The Guardian. Na Grécia, a primeira infectada é uma designer famosa que viajou para uma feira de moda em Milão, na Itália. Na Romênia, um paciente que vive no distrito de Gorj, próximo à Sérvia, entrou em contato com um italiano, anunciou o primeiro-ministro Victor Costache. Na Noruega, o primeiro caso é de uma pessoa que voltou da China. Na Geórgia, uma pessoa adquiriu a doença no Irã. O Paquistão confirmou, em um dia, os primeiros dois casos. Os números ainda não foram confirmados pela OMS.
O Irã é o país com mais mortes depois da China: ao menos 15, segundo a OMS. A entidade confirmou um caso na Argélia, anunciado na terça-feira – é o primeiro no continente africano. O Brasil, com um contágio confirmado hoje, é o primeiro na América Latina.
Na Coreia do Sul, o segundo país mais afetado, são mais de 1,2 mil pessoas com coronavírus e 12 vítimas fatais. Em um único dias, foram quase 300 novos diagnósticos.
A Itália registrou, nesta quarta-feira, 12 mortos e 424 pessoas contaminadas, segundo o jornal La Repubblica. Agora, há transmissão da doença entre a população local, como era na China no início da epidemia. O país se tornou epicentro do coronavírus na Europa, de onde o vírus se alastrou para outras nações – incluindo Áustria, Suíça e Brasil. O primeiro brasileiro com a doença visitou Milão, capital da Lombardia, região que concentra a maioria dos casos de coronavírus na Itália (258). A doença, no entanto, já chegou ao sul, incluindo a Sicília.
Ao mesmo tempo, os números melhoram na China. As autoridades comunicaram que 52 pessoas morreram nas últimas 24 horas, contra 71 na terça. É o menor número em três semanas. O total de contágios também diminuiu: 406 novos casos, contra 508 de terça. Até agora, foram 2.178 mortos e outros 78 mil contaminados na China.
A OMS deixou clara sua preocupação com o curso que a epidemia está tomando. O mundo "não está preparado" para enfrentá-la, disse na terça-feira Bruce Aylward, especialista que dirige a missão conjunta OMS/China.
— Deve-se estar preparado para administrar isso em larga escala, e isso deve ser feito rapidamente — advertiu.
*Com informações da AFP
O que faz
Quais são os sintomas de uma pessoa infectada pelo coronavírus?
Os sintomas incluem febre, tosse e dificuldade respiratória. De acordo com a OMS, a maioria dos infectados com o coronavírus desenvolve sintomas semelhantes aos da gripe e cerca de 20% progridem para doenças mais graves, como pneumonia e insuficiência respiratória. Crianças pequenas, pessoas com mais de 60 anos e pacientes com condições que comprometem a imunidade estão mais suscetíveis a manifestações mais graves.
Qual é a letalidade do coronavírus?
A estimativa inicial é de que a letalidade seja de 2% a 3%, ou seja: a doença mataria em torno de três pessoas a cada 100 infectadas.Esse índice é inferior aos registrados em outros dois coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, sigla em inglês).A epidemia de Sars registrou 774 óbitos em todo o mundo, com 8.096 casos entre 2002 e 2003. A taxa de letalidade foi de 9,5%. Já a epidemia de Mers notificou 858 óbitos dos 2.494 casos registrados em 2012, demonstrando uma taxa de letalidade de 34,4%.
Como se proteger
Existe um tratamento para o coronavírus?
Não há um medicamento específico. Aos pacientes infectados, indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade, com pneumonia e insuficiência respiratória, podem ser necessários suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica.
Posso tomar um antibiótico para prevenir contra o coronavírus?
Não. Antibióticos não são indicados nem para prevenção nem para tratamento, pois não agem contra vírus, somente bactérias.
Existe uma vacina para o coronavírus?
Como a doença é nova, não há vacina até o momento. Contudo, as autoridades chinesas divulgaram seu código genético rapidamente e laboratórios já estão estudando como criar uma imunização aplicável em escala global. Cientistas esperam ter uma vacina pronta para testar em humanos no início de junho.
Tomei a vacina contra a gripe. Estou protegido contra o coronavírus?
Não. A vacina da gripe protege somente contra o vírus influenza.
Como reduzir o risco de infecção pelo coronavírus?
- Evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas.
- Lavar frequentemente as mãos por pelo menos 20 segundos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o ambiente em que elas estiveram, e antes de se alimentar. Se não tiver água e sabão, use álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível.
- Usar lenço descartável para higiene nasal.
- Cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir.
- Evitar tocar nas mucosas dos olhos.
- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
- Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Manter os ambientes bem ventilados;
- Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.
Qual é a orientação diante da detecção de um caso suspeito?
Os casos suspeitos devem ser mantidos em isolamento enquanto houver sinais e sintomas clínicos. Pacientes devem utilizar máscara cirúrgica a partir do momento da suspeita e ser mantidos preferencialmente em quarto privativo.Qualquer pessoa que entrar no quarto de isolamento ou entrar em contato com o caso suspeito deve utilizar equipamentos de proteção individual, preferencialmente máscara N95, nas exposições por um tempo mais prolongado, ou então máscara cirúrgica, em exposições eventuais de baixo risco. Além disso, recomenda-se o uso de protetor ocular ou protetor de face, luvas e capote/avental.Todo o caso que se enquadrar na definição de suspeito para o coronavírus deve ser notificado o mais rápido possível para as autoridades de saúde.
Deve-se tomar cuidado com produtos importados da China?
Especialistas apontam que o envio de embalagens por correio internacional vindos da China não deverá trazer risco aos consumidores no Brasil, devido ao tempo decorrido entre o envio e a chegada. Isso porque, em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo fora de um hospedeiro.O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco associado à importação de produtos industrializados e ou de origem animal."Em geral, por causa da baixa sobrevivência dos coronavírus em superfícies, há um risco muito baixo de disseminação por meio de produtos ou embalagens enviados ao longo de dias ou semanas em temperatura ambiente."
E quem vai viajar?
Estão contraindicadas as viagens para a China e para os países com casos importados?
A OMS recomenda que medidas para limitar o risco de exportação ou importação da doença sejam implementadas, sem restrições desnecessárias ao tráfego internacional. O Ministério da Saúde do Brasil e o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos recomendam que viagens para a China sejam realizadas somente em casos de extrema necessidade, medida sugerida também pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
O que fazer em caso de viagem para área com circulação do coronavírus, caso não possa ser adiada?
Proteger-se, lavando as mãos frequentemente com água e sabão ou higienizando-as com álcool em gel 70%; cobrindo a boca e o nariz ao tossir e espirrar, com o antebraço ou usando lenço descartável; evitando o contato com pessoas que apresentem febre e sintomas respiratórios; comendo carne e ovos bem passados; e esquivando-se de contato com animais selvagens vivos ou de fazenda.
Quais são as orientações para viajantes que retornam da China?
Os indivíduos que retornarem da China e que apresentarem febre e sintomas respiratórios dentro de um período de 14 dias devem procurar a unidade de saúde mais próxima imediatamente e informar sobre a viagem.
Devo usar máscara de proteção ao deixar o Brasil?
A infectologista Gynara Rezende, do Serviço de Controle de Infecção da Santa Casa e do Hospital Porto Alegre, diz que, em voos com saída do Brasil, não é preciso embarcar com máscara cirúrgica.— E não vejo por que usar máscara nas conexões (fora do país). A maior parte dos casos está na China. Mas, na China, sugiro que a pessoa já chegue ao aeroporto de máscara e a use na rua, trocando-a a cada duas horas — fala a médica, acrescentando que basta adquirir a máscara cirúrgica comum, em farmácias, e que a do tipo N95 é recomendada para profissionais de saúde em determinadas situações.Além de conter a dispersão das gotículas de saliva, a máscara protege a pessoa de encostar no rosto e acabar se contaminando — daí a recomendação mais importante para a prevenção de contaminação por vírus desse tipo, que é a de lavar repetidas vezes as mãos durante o dia.