O coronavírus é menos letal, porém mais contagioso do que seus “irmãos”, a Síndrome aguda respiratória (sars, na sigla em inglês) e a Síndrome respiratória do Oriente Médio (mers, na sigla em inglês), indicam dados epidemiológicos da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A taxa de vítimas fatais do novo coronavírus, por enquanto, é de 2,3%, bem abaixo da sars (10%) e da mers (35%).
O boletim mais recente da OMS informa que o coronavírus afetou, do fim de dezembro até quarta-feira (12), cerca de 46,5 mil pessoas na China e em outros 24 países e matou cerca de 1,3 mil. A sars, em janela de tempo semelhante em 2003, contaminou menos de 3 mil pessoas e matou 116. A mers, em período parecido, adoeceu apenas duas pessoas, sem causar morte, em 2012.
— É mais fácil de pegar, mas é mais difícil de morrer. A humanidade não vai morrer disso, há outras doenças que matam mais, como a dengue — afirma o chefe do serviço de infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Breno Riegel Santos.
A dengue atingiu quase 60 mil brasileiros e matou nove só nos primeiros 25 dias de 2020, segundo dados do Ministério da Saúde. O sarampo, que voltou após pais deixarem de vacinar os filhos, atingiu mais de 18 mil pessoas em 2019. A gripe H1N1, de janeiro a setembro de 2019, afetou 2,6 mil brasileiros e matou 917, porém o governo apenas notifica os casos muito graves, e não os corriqueiros.
Não houve nenhum caso no Brasil de sars ou mers.
Apesar de a gripe espanhola de 1918 ter tido letalidade de cerca de 2,5% e ter matado 30 milhões de pessoas, a maior preocupação, por enquanto, é com o impacto do coronavírus em hospitais, unidades básicas de saúde e ambulatórios, explica a Lessandra Michelin, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (Sbin).
— Não é que o coronavírus seja uma nova gripe espanhola, mas é um vírus de alta transmissibilidade, que pode ocupar muito nosso sistema de saúde público e privado. O influenza tem exame rápido, vacina e (remédio) tamiflu. O coronavírus, não temos nada disso ainda. Como tem capacidade de espalhar fácil, o medo é que uma população suscetível procure os serviços de saúde e isso atrapalhe o dia a dia, porque dividirá a Emergência com outras pessoas — afirma. — Ao mesmo tempo, ainda estamos conhecendo essa doença.
No enfrentamento de qualquer doença infecciosa, há três pilares: diagnóstico, tratamento e vacina. O obstáculo do coronavírus é que não há remédios nem vacina disponíveis — e os resultados dos exames ainda demoram dias para ficar prontos.
O Brasil tem boas condições de enfrentar uma possível chegada do coronavírus, graças à existência do Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece atendimento sem custos a toda sua população, e à articulação da rede pública, pontua Rodrigo Pires dos Santos, infectologista e coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
— A gente encara o novo coronavírus com bem menos temor. Os números mostram que há uma agressividade menor do novo coronavírus em comparação às outras duas epidemias. Isso influencia a disseminação: um vírus menos letal tende a se disseminar mais, porque o hospedeiro mantém o transmissor, já que não vai a óbito — afirma.
A OMS afirmou no último sábado (8) que o número de casos de contaminação diária por coronavírus na China se estabilizou, mas que ainda é cedo demais para dizer que a epidemia superou seu auge.
O Brasil segue sem coronavírus e tem seis casos de suspeita da doença, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, desta quinta-feira (13). Os casos suspeitos estão em São Paulo (três), Rio Grande do Sul (dois) e Paraná (um).