Na entrevista após o cancelamento da venda das ações do Banrisul, o governador Eduardo Leite fez várias críticas à imprensa e a especialistas que debateram ao longo dos últimos meses a operação, que foi anunciada ainda em junho. Disse que "contaminou o cenário" e afirmou que investidores fizeram "ataques especulativos".
Olha, governador... Isso é bem normal e, aliás, costuma ser mais intenso ainda. Quando são empresas nacionais ou globais com movimentos desse tipo no mercado de capitais, as gestoras de fundos e corretoras destrincham cada número, cada sinalização, cada declaração, analisam o perfil de quem comanda o negócio e fazem modelos matemáticos projetando valor futuro. Cruzam cada linha do resultado financeiro da companhia com indicadores gerais da economia e, como molho, ainda colocam informações que vão captando nas suas andanças pelo mercado, acionando contatos. As análises pipocam por todos os lados, dos veículos especializados até a grande imprensa. Com e sem interesse, mas o investidor profissional, mais que ninguém, sabe filtrá-las.
Foi o próprio governo, acionista controlador do Banrisul, que optou por fazer a operação restrita com os chamados investidores qualificados, ou seja, que certamente espancariam ainda mais a situação do banco antes de formar o preço que ofereceriam pela ação. E o que estavam dispostos a pagar é o que achavam que estaria valendo no futuro. Nenhum fundo de previdência compraria papéis do banco pagando mais do que acha que vale pelo amor ao Rio Grande ou para colocar em dia a folha de pagamento do funcionalismo.
Especular, governador, é um termo usado de forma pejorativa. Mas ele significa estudar, refletir, pesquisar, investigar, presumir que um ativo irá ser valorizado, comprar por menos e vender por mais. Normalmente, em um curto prazo. Esses são, inclusive, comportamentos que esperamos de um gestor para quem nós, pessoas físicas, damos o nosso dinheiro para ser administrado. São eles que escolhem onde aplicar o valor para nos darem, depois, uma boa rentabilidade. Que pode ser para deixar ricos mais ricos, mas também pode ser uma família guardando para pagar a faculdade do filho.
Salvo quem comemora ataques a campos de produção de petróleo porque valorizará ações de petroleiras ou algo do tipo, o mercado não é do mau. Quem ofereceu R$ 18,50 pela ação nesta operação do Banrisul não acreditava que valia embolsar tantos papéis, que era a condição do processo, apostando em vender com facilidade e um retorno interessante. Eles cuidam do dinheiro dos outros.
Para vários investidores com quem a coluna conversa, o banco tem desvantagens tecnológicas na comparação com os concorrentes, tem atuação regional, depende demais de empréstimo consignado e tem seu próprio acionista controlador se desfazendo de participação. E, apesar de a privatização ter voltado ao debate puxada pelo preço tão baixo oferecido, caso ela fosse uma hipótese mais concreta mesmo, certamente os investidores teriam oferecido mais.
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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