O plebiscito é a forma ampla e profunda de exercer a democracia. Na Suíça, modelo de estabilidade política e social, o povo opina em todos os atos do governo. Com quatro línguas oficiais, os suíços vivem em paz, numa liberdade responsável assumida diretamente pelo povo.
Na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, o plebiscito é usual. Na Califórnia, o povo opina até na administração das ruas. O plebiscito só é desprezado onde haja resquícios do despotismo.
Indago: não terá faltado esta visão aqui, quando a maioria do Legislativo eliminou da Constituição a exigência de plebiscito para o Estado se desfazer da CEEE e de duas outras estatais?
Desfazer-se do patrimônio físico e tecnológico acumulado ao longo de décadas pelo Estado pode ser apenas uma decisão administrativa? Ou o povo deve opinar? Os deputados "representam o povo", mas não o substituem.
Dínamo da economia gaúcha nos anos 1950, 60 e 70, a CEEE é velho alvo da cobiça alheia. Em 1956, Ildo Meneghetti evitou o desmantelamento. Logo, em 1959, Leonel Brizola nacionalizou a American Foreign and Power e, ampliada, a Comissão Estadual de Energia Elétrica passou a "Companhia".
Em anos recentes, o roubo escancarado arruinou a CEEE. Segue ainda em "segredo de Justiça" na 2ª Vara da Fazenda, o processo do assalto de 1987, no governo Pedro Simon. A fraude vai a R$ 1 bilhão em valores atuais, mas ninguém se preocupa com isso. Até a Justiça se cala.
Por que, agora, se amputa o direito de o povo opinar sobre o que a Constituição consagrava? Por que ter medo da opinião de todos nós?
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Esse desdém e desatenção com que os políticos nos tratam teve agora um contraponto, mostrando que nem tudo se perdeu.
O ex-governador Jair Soares levou a Eduardo Leite o "abaixo-assinado" em que milhares de cidadãos alertam para os perigosos danos que provocará a mina de carvão a céu aberto entre Eldorado e Charqueadas. À beira do Jacuí, a 15 quilômetros em linha reta da Capital, destruirá cultivos de arroz orgânico e degradará o ar e a água que nos abastece.
O histórico de Jair Soares lhe dá autoridade. Ainda secretário da Saúde, em 1977, fechou a Borregaard (hoje Celulose Rio-grandense), que, de Guaíba, devastava o rio e o ar com pestilências.
Ministro da Previdência, depois nosso primeiro governador eleito após a ditadura, foi vereador e deputado federal. Agora, sem medo, volta à vida pública pela porta grande de uma grande causa – a defesa da natureza e da vida –, não pela pequenez de caçar votos.