A notícia do The New York Times, quatro dias atrás, é aterradora mas também nos alerta: em silêncio, espalha-se pelo mundo um novo fungo, Candida auris, resistente a tudo e com altíssimo poder de contaminação e propagação. Multiplica-se em tudo, ataca em profundidade o sistema imunológico e mata.
Em Nova York, no Mount Sinai Hospital, “o fungo espalhou-se, impregnou-se em todas as partes e tivemos que derrubar paredes, arrancar azulejos, pisos, pias e portas, destruir cortinas, telefones, leitos e roupa de cama”, explicou o renomado Dr. Scott Lorin, presidente do hospital, ao narrar os casos iniciais. O epidemiologista Matthew Fisher, do Imperial College, de Londres, chamou o fungo de “terrível ameaça desconhecida”.
O uso indiscriminado de antibióticos é apontado como responsável direto. Mas a causa primeira, ou ponto de partida, está ligada à degradação do meio ambiente (do ar, terras e águas) a partir da extração dos combustíveis fósseis, como carvão mineral e petróleo. Pequenos problemas (como resfriados e gripes) até complicações pulmonares maiores tratados intensivamente com antibióticos, apenas abrem caminho ao fungo originado da poluição.
Os primeiros indícios do novo Candida auris surgiram na Venezuela, Nigéria e Emirados, regiões de intensa e extensa exploração de combustíveis fósseis. Aparentemente (ou oficialmente), o fungo ainda não chegou ao Brasil.
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Não estamos livres, porém, de outros horrores originados nos combustíveis fósseis. Agora, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, decidiu abrir à exploração do petróleo o santuário ecológico de Abrolhos, no Atlântico.
Os 91 mil hectares declarados “zona de proteção ambiental” em 1983, no governo Figueiredo, concentram recifes e corais que datam dos primórdios da formação geológica do planeta, mais de 15 milhões de anos. De fato, são uma “biofábrica” de carbonato de cálcio, fundamental para o equilíbrio do Atlântico Sul. Além disso, as baleias jubarte ali se reproduzem.
Contra o parecer dos técnicos, a direção do Ibama (com o aval do ministro ou por ele instruído) autorizou a abertura de “blocos” para exploração de petróleo nas águas desse santuário de cinco ilhotas, a 70 quilômetros ao sul da Bahia.
Seguimos ignorando as fontes de energia limpas – como vento e sol – que a tecnologia do século 21 colocou à nossa frente, e insistimos nos poluentes e perigosos combustíveis fósseis. Cultivamos o atraso, ameaçando o presente para destruir o futuro.