O esdrúxulo e o absurdo, quando fantasiados de verdade, não são apenas ridicularias. Ao alterarem a realidade, são perigosos, pois nos desviam do essencial e se fazem nefastos para o presente e o futuro. Agora, por exemplo, o presidente da República mandou comemorar nos quartéis algo comparável à ideia de que "a terra é plana" e que não gira ao redor do Sol.
Sim, pois o que é comemorar o 31 de março de 1964 fazendo os quartéis festejarem a derrubada da Constituição e das leis, seguida da implantação da ditadura? A Procuradoria Geral da República e a Defensoria Pública consideraram a ordem presidencial, até, como "apologia do crime" pelo que ocorreu nos 21 anos da ditadura. Não chego a tanto.
Pode-se ser a favor ou contra o golpe de 1964, ou ter tido pretextos, na época, para o aplaudir. Mas, agora, a própria "ordem do dia" do ministro da Defesa diz textualmente que tudo nasceu da Guerra Fria. E o que foi aquilo, se não a disputa (alheia ao Brasil) que, há 55 anos, criou a paranoia do "perigo comunista"? O ministro, um general, foi mais realista que o capitão-aposentado, hoje presidente...
Mesmo assim, caímos todos na arapuca das trapalhadas destes primeiros meses de governo. O ridículo faz esquecer o essencial. O ministério da Educação é o núcleo dessa infinita aberração de estilo infantil. Pela manhã, o colombiano-ministro impõe "verdades absolutas" que revoga à tarde. Ou faz hoje e desfaz amanhã para, logo, criar outro absurdo.
Ficamos, porém, presos ao linguajar estranho (ou tolo) do presidente Bolsonaro, sem perceber o mais importante. Não há projetos de governança.
Na área da Economia, tudo se resume à reforma da Previdência do ministro Guedes, necessária como tese, mas polêmico como projeto. Na área da Segurança e Justiça, o projeto do ministro Moro virou água fria na fervura, sem ir às causas profundas da violência. Propõe reconhecidas necessidades, mas não vai à raiz da criminalidade.
O dia a dia é violento, todos disputam tudo com todos, buscando vantagens. Ou, estimulados pela droga e pelo furor hedonista da sociedade de consumo, cada um engana o outro. E mata, até, pelo prazer de matar, como naquela escola paulista.
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P.S. - Neste sábado, a partir das 16 h, na Orla do Guaíba, uma bem humorada "mateada mascarada" fará um protesto silencioso "para barrar a pretensão das mineradoras de acabar com a qualidade de vida" do nosso rio e ar. "Tragam suas máscaras", frisa a convocatória que circula pela internet.