O governador Eduardo Leite honrará seu mandato se impedir que, às portas da Capital, se arme um Brumadinho gaúcho, tão ameaçador como o que, lá longe, devastou terras e rios, matando centenas de pessoas, a maioria sepultada na lama. Basta agir com rapidez e impedir a implantação da mina de carvão a céu aberto em Guaíba City, entre Charqueadas e Eldorado, em que os efluentes serão lançados ao Rio Jacuí.
A mina foi autorizada pelo então governador Sartori, em julho de 2018, concedida à Copelmi Mineradora, que explora outras seis na região. O relatório de impacto ambiental apresentado pela empresa, diz que gerará 331 empregos diretos e 83 indiretos durante a implantação. Logo, "ao funcionar por 23 anos, em 2042 terá gerado 1.154 empregos diretos e 3.361 indiretos".
Isto compensa devastar o Jacuí e o Guaíba ou poluir o ar em 23 anos de vida útil?
Redigido ainda antes de Brumadinho, o relatório da mineradora leva àquela tragédia: "Ao fim da vida útil, o terreno terá uma elevação máxima de 30 metros". Ao vento e sol, a montanha espalhará os resíduos. Ao se romper, tudo irá ao Jacuí, daí ao Guaíba e à Lagoa dos Patos. E mais: a profunda cratera será "um lago no lado oeste", contaminando o lençol freático.
A 20 quilômetros de Porto Alegre, essa perigosa barafunda (abandonada na Europa desenvolvida) extrairá "carvão para uso na geração de energia", como no século 19. Só em forma secundária, a exploração "pode ser disponibilizada para atrair novos projetos de uso sustentável, como fertilizantes e gás", diz o relatório.
Os riscos brutais da água contaminada afetarão ainda a maior região produtora de arroz orgânico no Estado, uma das únicas no Brasil, junto à mina. Nada disso pareceu importante nos sete volumes do "relatório de impacto ambiental", a ser debatido em audiência pública em Charqueadas, a 14 de março.
Mas por que a audiência pública será só em Charqueadas? No caso de se romper, os resíduos da barragem de 30 metros de altura não chegarão, também, à Capital e outros municípios?
O impacto da mina chegará ao Delta do Jacuí, que abarca seis municípios, poluindo uma região protegida por um "plano de manejo" agora abandonado.
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Governador Eduardo Leite: impeça eventual hecatombe.
Guie-se pela encíclica Laudato Sii do papa Francisco, que condena a utilização do carvão e frisa que os combustíveis fósseis originam as mudanças climáticas que destroem o planeta, obra Suprema do Criador.
Passe à História como benfeitor, não como mero espectador.