Todos sabem, mas vale repetir – jamais o mundo viveu um horror como o propagado pelo novo coronavírus. Por isto, o momento é de união de esforços, mas algo concreto (mesmo que pequeno), não um "faz de conta" que sirva à publicidade de quem se exibe, sem minorar a tragédia.
O momento não é de exibicionismos, nem de ocultar nossos atos. A costureira que faz máscaras é tão heroína quanto o médico ou enfermeira que enfrenta o contágio nos hospitais. O mesmo se diga do agricultor, do operário, dos policiais, dos caminhoneiros e de quem não possa ficar em caseira quarentena, resguardando-se do horror.
Por isto, aquele grosseiro "e daí?" do presidente da República, mostrando-se insensível à maré de mortos pela covid-19, ecoou pelo mundo como se o Brasil fosse governado por um robô programado para a maldade e que esconde, até, a condição de robô.
Nada do que (sem piedade) diz Jair Bolsonaro leva a indagar ou pesquisar sobre a origem do horror. Mas, ao receitar cloroquina, ele insiste em transformar a autoridade presidencial em "exercício ilegal da medicina". Pensará que os testes negativos da Covid-19 lhe deram poderes mágicos?
Pelo que diz e atua, só parece interessado em fazer da Polícia Federal um aparelho para blindar a prole de toda investigação. Basta o ex-ministro Sérgio Moro ter mostrado o que mostrou para saber o que ocorreu naquela reunião ministerial de abril, em que o presidente – com chulo palavreado de bordel – reclamou da PF do Rio de Janeiro. A reação de Bolsonaro foi surpreendente: não haverá mais reuniões de todo o governo.
Todo encontro será a dois, sem testemunhas, como se governar o país não exigisse amplo debate e controvérsias, mas fosse só uma "conversinha", tal qual a covid-19 era só "uma gripezinha".
***
Os que apontam a Covid-19 como a "Terceira Guerra Mundial", acertam e erram a um só tempo. Acertam quanto ao horror em si, como se bombas atômicas caíssem sobre gente indefesa. Erram porque, agora, não há com quem dialogar (como nos anos da "Guerra Fria") para impedir ou evitar a propagação.
A 'Terceira guerra" se esconde num vírus que aterroriza por ser invisível. Várias epidemias recentes (Sars, Mers, ebola, gripe aviária e gripe suína) começaram em animais e infectaram humanos. Há a hipótese de que o coronavírus foi propagado pelo morcego.
Nos EUA, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças estima que três quartos das novas epidemias se originaram em animais silvestres que a urbanização afastou do habitat original e levou às cidades. Outros, como vacas e frangos, são "bombardeados" com antibióticos, aumentando o poder das bactérias sobreviventes que, logo, ingerimos.
Nada disto, porém, nossos responsáveis pela saúde pública levam em conta. Escondem-se e ocultam o que deviam pesquisar.