A mais recente estripulia dos politiqueiros de Brasília rebaixa a saúde humana e o meio ambiente à condição de inservível traste velho cheio de cupim, que levamos ao lixo.
Em meio à eufórica expectativa pela Copa do Mundo, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou, dias atrás, o projeto da nova lei dos agrotóxicos, que nos faz retroceder a ultrapassadas e perigosas ideias sobre o papel da agricultura na vida humana. Mais ainda: sob o disfarce de "agilizar" a burocracia atual, eleva o veneno à condição de algo intocável protegido em lei.
O projeto (de autoria do ex-senador e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi) contraria tudo aquilo que a União Europeia, os Estados Unidos e o mundo inteiro vêm desenvolvendo no controle dos agrotóxicos, para que a agricultura esteja a serviço da condição humana, da saúde e da existência em si. Podemos prescindir de qualquer bem, menos de nos alimentarmos. Assim, em que moral ou ética se apoia uma agricultura voltada apenas à falácia de maior produtividade e lucro, sem importar-se com seu fim essencial, a saúde e a vida humanas?
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O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo – cinco litros ao ano per capita. Dos 50 "princípios ativos" mais utilizados aqui, 22 deles são totalmente proibidos na União Europeia e outros 32 nos EUA. Anos atrás, a Anvisa reavaliou o uso de 18 substâncias proibidas nos países desenvolvidos mas baniu apenas cinco – cihexatina, endossulfam, forato, metamidofos e tricloform.
As demais, andam à solta, espalhando pelos alimentos doenças de fundo neurológico, respiratório, hepático, renal e, até, genéticas, além de várias formas de câncer. Não só ingerir é perigoso: o veneno contamina águas, ar e solos. Glifosato na água, por exemplo, é cancerígeno (como já se comprovou em animais), mas permitimos, aqui, um nível cinco vezes superior ao da Europa.
A politicagem que controla a maioria da Câmara dos Deputados, porém, não se preocupa com nada disso. Nem em que, hoje, na Europa e EUA não se avalie só o perigo já comprovado, mas também o risco futuro pelo uso contínuo do veneno.
No entanto, preferiu considerar "ofensiva" a denominação genérica de "agrotóxico" e quer trocá-la por "pesticida". Antes, quando desconhecíamos as entranhas do horror, as grandes multinacionais nos faziam chamar o veneno de "defensivo agrícola".
Agora, a politicagem interesseira, desprovida de qualquer moral, quer transformar o veneno em lei.