Passei 40 dias no Exterior, observei de longe o caos caminhoneiro e, na chegada ao Rio de Janeiro, perguntei ao taxista como ia o Brasil e a resposta veio sem titubear: "Depois da última crise e da humilhação, vamos até bem. Mas é só um ensaio e os ensaios podem não ser a realidade". Concordei e a concordância deu-lhe fôlego para prosseguir, como se deslizasse do Oiapoc ao Chuí:
– O problema são os grandes mandões, que só decidem por interesse. Por grana. Roubaram muito nos últimos tempos, há figurões processados que já deviam estar presos, a não ser que o Gilmar Mendes os libertasse – argumentou. Fez uma pausa e concluiu: "Mas se a CBF deixar o Tite em paz, podemos repetir o México de 1970 lá na Rússia".
Para ele, o Brasil era a seleção de Tite, não outro. Com o Brasil de Temer (e nosso) ele já extraviara a esperança e o interesse. Só o "T" inicial era o mesmo. A "humilhação" eram os 7 a 1 que os alemães nos meteram goela abaixo, ou gol abaixo. O resto é tão indigno que o silêncio faz a ferida não se alastrar.
Um ex-presidente está preso por corrupto e, agora, a Polícia Federal volta a investigar o atual chefe do governo no bilionário suborno do "decreto dos portos". E pede a quebra do sigilo telefônico de Temer e dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, seus visíveis operadores secretos.
Até nisto somos um país sem igual...
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A bandeira começa a estar em todos os lados, de vilarejos a grandes cidades. O patriotismo e a noção de Pátria ressurgem de uma forma tão surpreendente que assusta.
Na Rússia, Putin usa a Copa do Mundo numa ficção dos tempos de superpotência da União Soviética, naquele torneio de mísseis disputando a Guerra Fria. Aqui, sem nada a relembrar, esquecemos até o presente. Nunca, como hoje, houve um governo tão ausente da noção de patriotismo e em conluio com grandes empresas cuja única pátria é a cobiça.
A pátria é o povo que aqui vive e trabalha. Ser patriota é desenvolver a capacidade solidária de construir para todos. Nos últimos anos, porém, destruímos tudo que fora edificado, até a noção de honestidade. A Petrobras (nosso orgulho como nação) localizou o pré-sal e, logo, foi destruída como empresa. Primeiro o assalto direto. Agora, o indireto, na especulação da Bolsa de Valores.
Com candidatos medíocres (e um deles enlouquecido como Hitler) a eleição presidencial tende a ser farsa oficializada. Assim, antes de desfraldar bandeiras, pensemos se somos patriotas ou apenas patri-otários.