A repugnante escravidão faz da liberdade a grande meta de todos. Ser livre, porém, não é só viver sem ditaduras nem ditadores. Mais do que tudo, é viver em paz, sem ser enganado a cada passo. Escrevo da Europa Central (voltando de Praga a Berlim) e observo o Brasil e o Rio Grande a distância, comparando diferentes situações e uma só definição – a liberdade.
Em Porto Alegre, Paola decidiu “ser livre” aos 18 anos – abandonou o lar materno e optou pelo namorado narcotraficante. Por ordem dele (ou de seu ciúme), foi tiroteada, e filmada, na própria cova. Cada qual exerceu uma “liberdade” nascida da ignorância e do horror da droga.
Ser livre é isso? Ou é livrar-se da opressão, seja a dos políticos tipo Bolsonaro e dos corruptos já desmascarados, seja a do poder financeiro ou da droga? Ou do machismo.
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No cotidiano de Berlim, na Alemanha, ou de Praga, na República Tcheca, vivo nova experiência de liberdade. Saio à rua sem medo, dia e noite com o celular à mão me indicando ruas.
Quem, em qualquer lugar do Brasil, ousa fazer o que faço agora? No metrô ou nas paradas de ônibus (todas com internet) das duas cidades, ou nos modernos e silenciosos bondes de Praga, o celular não é objeto de desejo alheio, que nos arrancam das mãos como entre nós, mas um ajudante no ir e vir.
Em Praga, nos cinemas e teatros, penduram-se casacos nos cabides à entrada, sem temor. Em Berlim, as bicicletas ficam nas calçadas, às centenas, noite adentro, sem cadeados. No máximo, e como exceção, há os “descuidistas”, como dizíamos aos “batedores de carteira” do passado, quando roubar se limitava a isso.
Ser livre e desfrutar da liberdade é também esse viver tranquilo que já não desfrutamos no Brasil, nem nos vilarejos. Entre nós, o assalto incorporou-se ao estilo de vida e, até, agradecemos quando o assaltante de rua não dispara a arma com que nos amedronta.
Agora, quando pela primeira vez os “grandes” e intocáveis ladrões da política e do empresariado começam a ser presos, nos limitamos a ler as notícias, sem exigir mudanças profundas na estrutura das leis e do sistema que permitiram o absurdo por anos e anos. A cada eleição, novos rostos mudarão a fala mas continuarão o horror que repudiamos. E seguiremos com os mesmos grandes empresários corruptos que, agora, prometem “corrigir erros”.
Só há um caminho: educar para a liberdade para nos libertarmos da vulgaridade e da ignorância. Mas quem tem um passado de autoridade para isso?