O que dizer, agora, quando Michel Temer, "líder do quadrilhão do MDB", foi preso num dos 10 processos a que responde por corrupção? A Justiça se encarregará dele e seus asseclas, como fez com Lula, Sérgio Cabral, Pezão, Eduardo Cunha e outros. Há 500 anos, o poeta Camões já advertia: "Cesse tudo o que a antiga Musa canta, / um valor mais alto se alevanta". Felizmente!
Mais devastador do que a corrupção pelo dinheiro, porém, é corromper a vida, degradando a natureza, obra Suprema da Criação. Na encíclica Laudato Si', o papa Francisco adverte sobre a nefasta exploração do carvão e dos combustíveis fósseis, principais geradores do horror das 'mudanças climáticas', mas só nos "benzemos" ou cruzamos os dedos, em figa...
O crime da mina de Brumadinho (e, antes, o de Mariana, MG) nos comoveu, mas não impediu que, agora, para explorar carvão a céu aberto, se busque instalar aqui, entre Eldorado e Charqueadas (a 25 km da Capital), uma montanha de detritos de 30 metros, similar às que geraram aquelas tragédias. E com os resíduos lançados ao Jacuí e, daí, ao Guaíba...
Tenho insistido no perigo da devastação até porque, em fins de 2017, a Assembleia Legislativa aprovou, "em urgência", por 50 votos a 1, o projeto do governo Sartori que instituiu o "polo carboquímico" que leva à pretendida mina a céu aberto. Não houve debates, nenhuma comissão o analisou.
Não piaram sequer os que (por demagogia e teatralidade) se opõem a tudo. Como um dogma, engoliram o "argumento" de que regulamentar a exploração do carvão "trará segurança jurídica ao governo e aos investidores". Nenhuma menção, porém, à segurança do meio ambiente...
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Só o deputado Marcel Van Hattem percebeu o perigo e votou contra. O mais jovem integrante do Legislativo entendeu o futuro que seus "experientes" colegas não quiseram ver.
A proposta de Sartori era clara. Por um lado, isenções fiscais e financiamentos à empresa mineradora. Por outro, o tonitruante absurdo de afirmar que gerará "políticas que contribuam para a redução do efeito estufa, aliados ao esforço mundial de combate às mudanças climáticas". O projeto negava toda a ciência e desafiava todas as advertências do papa, mas foi aprovado por 50 votos a 1.
Por que tanto desinteresse pelo meio ambiente? Por que essa cega idolatria ao "bezerro de ouro" uniu praticamente todos os deputados que, em disputas menores, se engalfinham como adversários?
Por que só um deles, exatamente o mais jovem, revelou-se experiente e adulto?