A Páscoa é ressurreição, repito sempre para que não se confunda com o coelhinho de chocolate. Torturado, crucificado e morto, Cristo revive em nossos corações e atos. Agora, a data coincide com o aniversário da execução de Tiradentes, também um ressuscitado, como Ele.
As ideias de liberdade e libertação pelas quais, em 1792, enforcaram esse homem de barba longa e camisolão, hoje são axioma intocável. Até os que defendem ditaduras ou improvisados tiranos, se disfarçam de adeptos da liberdade.
Mas no Brasil há quem esconda o passado e faça da cegueira a única forma de enxergar. Com o falso nome de “construir o futuro”, o frenesi destrutivo vai das trapalhadas do presidente da República ao blá-blá-blá dos políticos e, agora, se instalou brevemente no Supremo Tribunal. Só não se expandiu e virou regra porque a opinião pública entendeu o horror.
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Sim, pois (mesmo sob críticas de seus colegas do STF) o ministro Alexandre de Moraes desrespeitou um dos fundamentos da Constituição de 1988 e proibiu o site da internet O Antagonista e a revista Crusoé de informarem sobre o aparente vínculo do presidente da Corte, Dias Toffoli, com a corrupção apurada pela Lava-Jato.
Encurralado pelo próprio absurdo, viu-se levado a “revogar” o ato de censura, e a admitir que a menção existia. Mas o tumor já se formara e a mácula respingou na credibilidade da Justiça. Surgiu a pergunta: o preceito universal de que “todos são iguais perante a lei” não vale para os juízes?
Pela primeira vez, o ato de um ministro do STF teve rejeição unânime. Até o presidente Bolsonaro mudou de tom e disse que o Brasil necessita da ação crítica da imprensa. O ministro-decano do STF, Celso de Mello, chamou de “perversão constitucional” a censura imposta pelo colega.
A procuradora-geral, Raquel Dodge, o acusou de reviver “o sistema penal inquisitório”, que “julga” para punir por antecipação. No caso, punia a liberdade de revelar verdades de um minucioso inquérito, não “falsa notícia”. O próprio Marcelo Odebrecht, mentor das falcatruas, identificou Toffoli como “o amigo do amigo do meu pai”, que ele mesmo menciona nos documentos do processo.
Haverá ainda quem queira ressuscitar os métodos inquisitoriais e transformá-los em norma da Justiça??
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P.S. - Na segunda-feira, dia 22, em Lajeado, às 19h15min, faço a palestra inaugural do 6º Simpósio Internacional Diálogos na Contemporaneidade, iniciativa da Univates, Universidade do Vale do Taquari.