Estamos em maio e já são 32 casos. Sete na Libertadores. Seis no Gauchão, me ajuda Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. É uma avalanche. Estamos regredindo. Há uma parcela de pessoas, antes envergonhada de fazer certos comentários de cunho racial, que agora se solta sem medo, incentivada pelo ambiente de intolerância. Sentem-se legitimados.
Uma boa perícia da leitura labial pode resolver a guerra de versões. A de Edenilson ficou clara e firme desde o início. Foi chamado de macaco. A de Rafael segue confusa. Primeiro, ele teria sido mal entendido numa expressão em português de Portugal. Depois, segundo os dirigentes, passou para “mano, caralho”. No depoimento à Polícia, antes de ser solto sob fiança de R$ 12 mil, virou “foda-se, caralho”. À imprensa, não informou o que tinha dito.
O Corinthians, clube marcado por pautas libertárias desde a Democracia Corintiana dos anos 1980, nem cogitou puni-lo se ficar provada a injúria. Vai defendê-lo e ponto, pelo que entendi dos dirigentes, extinguindo a hipótese da razão de Edenilson. Esse inquérito tem de ter um desfecho, seja qual for, inclusive na esfera desportiva, no STJD.
Edenilson foi corajoso. Parabéns a ele. Levou adianta a sua verdade, ancorado numa trajetória profissional irretocável. Repare que os jogadores do Corinthians o abraçam. Isso é respeito. Ele não pode ser cobrado por ter ficado em campo ou qualquer outra ação ali no calor do momento. Ele é vítima. Estava sob forte impacto. Ainda teve a grandeza de dar a chance a Rafael Ramos de reconhecer o crime e se desculpar. Nesse caso, não o acusaria.
Se episódios de injúria ficarem só na multa, vamos a 100 casos até o fim do ano. É uma derrota nossa, enquanto sociedade.