Com a derrota no Gre-Nal, o Grêmio ingressou na sua melhor fase no Campeonato Brasileiro. É um momento raro, um néctar que deve ser saboreado até a última gota. Porque o Grêmio não tem mais nada a perder. A maioria absoluta dos analistas, inclusive os de dentro do clube, considera o time virtualmente rebaixado para a Série B. Já houve abundante troca de técnicos. Deu-se chance a quase todos os jogadores.
O que resta a fazer?
Ousar.
Agora é a hora de jogar sem medo de ser feliz, e isso é muito bom.
Tome o Gre-Nal como base: jogaram bem os espetaculares Kannemann e Geromel, o lateral Cortez, o volante Lucas Silva e o atacante Douglas Costa, além de Vanderson, no pouco tempo que teve. Muitos dos outros pareciam até desanimados. Então, que se injete ânimo nesse time. E ânimo vem de anima, alma. O Grêmio precisa de alma nova.
É a hora, portanto, de apostar firmemente nos jovens, esses que continuarão no clube e que são a esperança de futuro vitorioso. Para os próximos jogos, favorecendo-se inclusive das ausências forçadas dos jogadores suspensos e dos que vão para seleções nacionais, o técnico poderia fazer um time com o ouro que se encontra em seu próprio quintal:
Chapecó; Vanderson, Kannemann, Geromel e Guilherme Guedes; Lucas Silva, Fernando Henrique e Mateus Sarará; Ferreirinha, Elias e Douglas Costa.
Um time para tentar a classificação tornada improvável e para preparar o que virá, aquilo que os poetas antigos chamavam de porvir. Se vencer seis de nove partidas, e salvar o clube do rebaixamento, maravilhoso, será uma façanha, será um feito histórico, lembrado para sempre. Mas, se não vencer, tudo bem. Afinal, foram os velhos jogadores, os tais “cascudos”, que meteram o time nessa enrascada.
Só quem não se inquieta com a ideia da morte é que sorve realmente o bom da vida. Para o Grêmio chegou a hora da aceitação, e a aceitação cessa o sofrimento.
O bom dos dias iguais
Aliás, a ideia da morte. Há quem diga que só nós, seres humanos, temos a consciência de que vamos morrer, e daí se originam toda a nossa angústia, todo o nosso infrutífero desejo de se eternizar, todo o prestígio da igreja, todo o bom sucesso financeiro dos psicanalistas.
Não sei se essa exclusividade é verdadeira, porque é difícil saber como um cachorro, um gato ou um elefante veem o mundo e veem a si próprios, mas é certo que há uma diferença importante entre nós, Homo sapiens, e eles, bichos: se eles têm noção de que um dia vão morrer, não se importam muito com isso. Os bichos, o que eles querem é comer e beber, brincar bastante quando são pequenos e se reproduzir quando são maiores, dormir quando sentem sono e cuidar dos filhotes quando eles nascem. E deu. Não precisa muito mais do que isso. Os bichos não se sentem infelizes se vivem sempre do mesmo jeito, se seus dias são sempre iguais. Para eles, não existe monotonia.
O que é uma imensa sabedoria. Como os seres humanos evoluiriam se soubessem o prazer de viver dias sempre iguais.