Havia um Grêmio, um dia, e aquele Grêmio não existe mais. Era um Grêmio que envolvia o adversário, como o Flamengo de Zico e Adílio, e que tinha sofreguidão de possuir a bola, como o Barcelona de Xavi e Iniesta. Era um Grêmio amado por quem ama o futebol. Que acabou. O enfrentamento com o River Plate mostrou o fim de um ciclo.
É uma pena que um time com tantas possibilidades tenha se esfumaçado exatamente por acreditar demais em seus próprios méritos.
Em Buenos Aires, sabendo-se desfalcado e jogando no estádio do inimigo, parecia que aquele jeito embrutecido de jogar era só estratégia. Suspeitava-se de que o Grêmio tinha sido deliberadamente tosco porque lhe bastava perder de pouco. Mas pode não ter sido estratégia. Pode ter sido necessidade. Porque, na Arena, diante de 55 mil gremistas, o Grêmio mostrou claramente que se tornou muito menor do que era.
O gramado da Arena, mutilado como o Alim Pedro do IAPI, foi o palco perfeito para o triste espetáculo oferecido pelo Grêmio. Um time que pretendia desafiar o Real Madrid pelo domínio do mundo se viu amassado como se estivesse se repoltreando na segunda divisão. No primeiro tempo, foi humilhante: os jogadores do Grêmio não conseguiram sair do campo de defesa trocando passes, sua única alternativa era o bico para onde o nariz apontasse. A esperança era aproveitar um lance fortuito, que acabou se cumprindo: o gol de Leonardo Gomes surgiu de um escanteio mal cobrado por Alisson.
No segundo tempo até houve certa melhora, e por 20 minutos aquele antigo Grêmio que encantou a América parecia ter ressuscitado. Qual o quê! Depois que Éverton desperdiçou a chance de nocautear o River, o Grêmio se encolheu outra vez e, encolhido, foi pisoteado pelo adversário.
Não é de Bressan nem do VAR nem do árbitro nem da má sorte a culpa pela eliminação. A culpa é do próprio Grêmio, da instituição, de seus líderes que não perceberam a franca decadência da equipe e não mudaram na vitória. Agora terão de mudar na derrota.
O grupo do Grêmio é carente para os elevados padrões do futebol de hoje. É carente, ao menos, para quem quer ser vencedor no futebol de hoje. Há valências importantes, é imperativo que se diga: a defesa, se fosse um restaurante, ganharia três estrelas do Guia Michelin. O trio de ferro formado por Marcelo Grohe, Kannemann e Geromel é titular em qualquer time do mundo – no Real, no Barcelona, na Seleção. Os dois Paulos, o Vitor e o Miranda, são suplentes competentes. Os laterais, Léo Gomes e Cortez, são cumpridores. Do meio para a frente há o capitão Maicon, que, devido à idade provecta, volta e meia se lesiona, o valente Ramiro, os craques Luan e Éverton, e os dedicados Michel e Alisson. Depois deles, dois jovens são promissores: Jean Pyerre e Matheus.
E só.
É pouco.
O Grêmio necessita de, no mínimo, um meia e um centroavante titulares, mais um punhado de bons reservas.
A tarefa é grande para Romildo Bolzan. Mas, se ele for ágil e certeiro, talvez transforme o que é um fim em um recomeço. Um ciclo se fechou, outro pode se abrir. Mesmo assim, é uma pena que um time com tantas possibilidades tenha se esfumaçado exatamente por acreditar demais em seus próprios méritos. O Grêmio deixou de fazer história em 2018.