Foram exatos 53 segundos entre o instante em que Pity Martínez cobrou a falta que originou o primeiro gol do River Plate contra o Grêmio e o momento em que Jael bateu na bola no centro do gramado para dar o reinício do jogo. Nada além disso foi o tempo que o árbitro assistente de vídeo teve para analisar a existência de alguma irregularidade. Se considerarmos que a checagem das imagens começou somente depois que Borré marcou o gol, o tempo restante para isso ficou na casa dos 40 segundos. Seria o suficiente para perceber qualquer infração.
Levo em conta um princípio básico neste lance. O árbitro uruguaio Andrés Cunha não pode ser culpado por não ter visto o toque de mão. Nem mesmo os jogadores do Grêmio notaram que a bola bateu no braço. Não esboçaram reclamação ou fizeram qualquer manifestação. Isso serve para separar o jogo do campo e o da televisão, uma nova realidade do futebol em tempos tecnológicos. Somente o VAR poderia ter chamado a atenção do juiz principal. Há um passo a passo que ajuda a entender o que ele viu no lance e por que isso não aconteceu.
O protocolo da IFAB (International Board, entidade que regulamenta as regras do jogo) manda que todos os gols marcados sejam verificados pelo árbitro de vídeo. O uruguaio Leodan González, responsável por cuidar do recurso eletrônico na Arena do Grêmio, realizou a checagem antes da autorização para que a partida fosse reiniciada. Esse procedimento pode ser dividido em três etapas:
A primeira delas é verificar se houve ou não impedimento do jogador do River Plate. Com a certeza de que a posição era legal, em um segundo momento ele observa se há alguma infração dos atletas de ataque contra defensores. Por fim, González analisa especificamente se há alguma irregularidade na finalização de Borré para o gol. Todas essas ações foram praticadas pelo árbitro de vídeo, que em nenhum momento detectou qualquer anormalidade.
De maneira resumida, ainda que tenha sido um lance difícil, o erro do VAR foi não perceber o toque de mão do jogador do River Plate no terceiro momento da checagem. Se tivesse visto, ele deveria ter solicitado que Andrés Cunha revisasse a imagem no monitor à beira do gramado.
Não há dúvidas sobre o toque de mão na bola
Os lances de mão na bola e bola na mão sempre geram polêmica. O que aumenta a discussão é o fato de que nem todas as orientações passadas aos árbitros estão colocadas textualmente no livro de regras do futebol.
Uma das determinações que não está no papel diz respeito aos lances de ataque. Há recomendação recente da Fifa para que um gol marcado com origem de toque de mão não pode ser admitido. Não importa o contexto da jogada, a distância ou a velocidade da bola. É como se jogadas de ataque tivessem uma regra própria na comparação com situações de defesa.
De maneira simplificada, se a bola bateu no braço do "atacante", é irregular. Se bateu no braço do "defensor", depende da interpretação. Isso acaba com qualquer dúvida sobre o primeiro gol do River Plate. Houve a irregularidade porque Borré tocou na bola com o braço – ou, como o próprio definiu nas redes sociais, com "la mano de Dios".