Devo ser a única pessoa que não foi ver Oppenheimer em protesto por não mostrarem no filme as mulheres cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan. Bem, o título do filme é o nome do homem, baseado na biografia dele e, portanto, a história sendo contada na sua perspectiva.
Você pode dizer que isso é sempre assim. Afinal de contas o projeto era para fazer a bomba atômica, nem queremos envolver mulheres em algo tão monstruoso. Sim, o Projeto Manhattan teve esse terrível propósito. E todos que se mudaram para o deserto para estudar como partir o núcleo atômico e usar a força liberada como arma nunca se recuperaram do resultado. Mesmo que a finalidade tenha sido acabar com Segunda Grande Guerra.
Paradoxalmente, ao concentrar em um só lugar tantas mentes brilhantes, o projeto impulsionou um salto gigante para o conhecimento da natureza. Especificamente, como se estrutura o núcleo dos átomos que formam tudo o que nos cerca – inclusive nós mesmos. Esse salto foi dado por uma mulher – que estava lá, em Los Alamos – e que alguns anos depois revolucionou a física com uma equação. E que se tornou a segunda mulher agraciada com o Nobel de Física, depois de Marie Curie. A outra Maria: Maria Mayer.
É inacreditável que os físicos que estavam lá conseguiram quebrar o núcleo dos átomos estudando o problema em um modelo que não estava certo. Modelo é como chamamos a ideia que temos de algo – baseados nas evidências, dados que coletamos. Bons modelos, em ciência, são definidos por equações matemáticas. É como funciona uma equação: se você colocar valores em X e Y, digamos assim, consegue prever o resultado. Mas a equação que eles usavam não estava certa – portanto, o resultado era apenas mais ou menos certo.
Os átomos são as partículas que definem um elemento químico. Pensamos em um átomo com um núcleo que tem prótons com carga positiva e nêutrons sem carga. Esse núcleo é orbitado pelos elétrons – partículas negativas. Elementos químicos são definidos pelo número de prótons no núcleo – seu número atômico. Alguns têm o núcleo mais estável – difícil de quebrar. Outros são mais instáveis – candidatos a quebrar. Quando isso acontece, uma quantidade enorme de energia é liberada. Mas como fazer para controlar esse processo? O hidrogênio tem um próton, número atômico 1. Naquela época, início dos anos 1940, o modelo explicava o núcleo de átomos de número atômico mais baixo. Mas os cientistas escolheram o Uranio 235 – instável e grande. A equação da época não previa com certeza os resultados – portanto, eles tiveram um pouco de sorte.
Maria Mayer era uma física brilhante que nunca teve um emprego por ser mulher. Ela trabalhava junto ao marido, também físico, que tinha emprego. Mas foi ela que, em 1948, publicou uma equação que finalmente explicava como se estruturava o núcleo atômico. Inclusive os números atômicos grandes. E os de elementos que ainda não haviam sido descritos, como o Níquel. Eu quero fazer o filme da Maria Mayer.