Não existe problema insolúvel na visão de um cientista. Entre o problema e a solução, existem apenas tempo e dinheiro. Quanto mais dinheiro se investe, menos tempo se leva – porque muitas mentes brilhantes existem. Onde quer que estejam, estão ocupadas em resolver os problemas que se apresentam.
Uma sociedade que capitaliza seu potencial intelectual oferece o máximo de oportunidades para deixar que esse potencial alcance as posições em que melhor podem solucionar os problemas que se apresentam para o coletivo. Paul Offit é uma das pessoas que alcançaram essa posição. Hoje no Children’s Hospital da FIladélfia, coinventor da vacina para rotavirus, quando perguntado sobre como conseguimos tantas vacinas para a covid-19 em tão pouco tempo ele respondeu laconicamente: “Dinheiro!”. A quantidade de recursos investida é estimada em US$ 24 bilhões em um ano, US$ 5 bilhões só nos EUA.
Para comparação, o valor investido em vacinas para HIV (que ainda não existem) é estimado, no seu auge, em US$ 500 mil por ano. Os bilhões investidos em vacinas para a covid-19 possibilitaram testes com rapidez e eficiência nunca antes vistas. Veja as vacinas de RNA: nunca na história dois estudos clínicos com dezenas de milhares de pessoas foram conduzidos simultânea e independentemente, por duas empresas (Moderna e Pfizer), com duas vacinas muito similares, mesmo alvo, alcançando resultados quase idênticos. Provavelmente, o maior exemplo até hoje de confirmação independente. Isso revolucionou a indústria de vacinas.
Cada estudo clínico de fase 1, 2 e 3 custam da ordem de US$ 4 milhões, US$ 13 milhões e US$ 20 milhões, respectivamente. Em média, US$ 41 mil por paciente. Isso não computa os custos de pesquisa básica, a ciência que desenvolveu o produto testado no ensaio clínico. Uma média de US$ 20 milhões, em 10 anos, para chegar no produto. Esses recursos não vêm das empresas, mas dos governos, que subsidiam muitos dos estudos clínicos também. E isso tudo não inclui recursos investidos em educação para os profissionais que desenvolvem esses produtos. Essa é a dimensão do investimento necessário para resolver um grande problema no mercado de saúde. Não acontece da noite para o dia: é o resultado de décadas de políticas públicas que apoiam cada uma dessas etapas. São decisões da sociedade, pessoas que ocupam cargos oficiais e grandes farmacêuticas.
Outro problema é o de antivirais para tratar a covid-19. Não há hoje tratamentos eficazes para a doença; mas, só nos EUA, US$ 1 bilhão foi investido em 2020 para desenvolver essas drogas. Minha opinião profissional: é uma questão de tempo e de dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais rapidamente acontece.
Somos responsáveis por planejar e otimizar as oportunidades para que as pessoas mais talentosas possam estar nas posições em que contribuam para solucionar problemas cruciais. Delegamos isso com o voto, em todas as instâncias. Não basta “ter assessoria”: a pessoa que nos representa e lidera precisa não apenas ser erudita, mas saber o que é relevante. Por que você delegaria a pessoas despreparadas o poder de decidir sobre a sua vida? Como, eu pergunto, chegamos a este ponto?