O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi internado e operado às pressas na madrugada de terça-feira (10), no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Vinha reclamando de fortes dores de cabeça.
A cirurgia serviu para drenagem de hematoma após a descoberta de uma hemorragia intracraniana em um exame de imagem.
A internação do presidente é ainda efeito colateral de um incidente de outubro: uma queda no Palácio da Alvorada.
Na ocasião, o petista cortava as unhas do pé quando caiu no banheiro, o que causou um traumatismo craniano e um pequeno sangramento no cérebro.
Ele estava sentado num banco, inclinou o corpo para cortar as unhas e, ao retornar à posição, o banco resvalou e ele perdeu o equilíbrio.
A cena parece boba, mas é corriqueira na vida dos idosos e ilustra um mundo de cuidados invisíveis na velhice.
Algumas regras são sagradas para quem tem a idade de Lula (79 anos): não subir em bancos, não prescindir do corrimão em escadas, evitar superfícies escorregadias.
Barras se fazem necessárias nos banheiros e quartos. Assim como privilegiar o uso de sapatos com solado antiderrapante, remover tapetes, dispensar móveis baixos, ajustar a cama e o colchão para a altura adequada, manter os ambientes bem iluminados, não encerar o chão e conservar os pisos secos, deixar telefone em local acessível e celular carregado, garantir que os interruptores sejam de fácil acesso, guardar utensílios em armários e gavetas ao alcance dos braços.
Trata-se de uma arquitetura e decoração secretas que vão ganhando forma no dia a dia.
O desequilíbrio, comum nessa fase, não deve ser rotulado de falta de autonomia ou dependência, como se o indivíduo não mais desfrutasse de condições psicológicas e físicas para se cuidar sozinho. Sinaliza somente que é preciso se prevenir diante das limitações dos movimentos do corpo.
Por mais que exerça um alto cargo, e apresente um histórico de invejável resistência para suportar a maratona de viagens internacionais e solenidades pelo país inteiro, Lula não está imune ao seu tempo.
Qualquer desatenção na intimidade pode custar a sua paz.
De acordo com o Ministério da Saúde, um em cada três idosos sofre uma queda por ano, sendo que 34% delas provocam algum tipo de fratura. A média anual é de 300 mil internações em função dos acidentes domésticos. Entre eles, destacam-se tombos, cortes, engasgos, intoxicações, queimaduras e choques.
Estima-se que 40% das pessoas com 80 anos ou mais caem a cada ano.
Tenho pais com 85 anos, e não me preocupo tanto se eles andam pela rua. Os riscos são previsíveis e a vigilância é maior.
Estranhamente, eu fico apreensivo quando se encontram em casa, no momento em que eles relaxam e vão tomar banho, jantar e circular pela noite entre os móveis, em busca daquela sedenta água de madrugada.
Se, com os meus filhos adolescentes, eu sentia que estavam seguros ao voltarem para o lar, com os meus pais é o contrário: eu morro de medo.
Morro de medo quando inventam de pendurar um quadro, ou pegar um livro no alto das estantes, ou espiar as falhas de uma tomada.
Já pensei em colocar câmeras, mas não me cabe invadir a privacidade deles.
A casa, em especial, por simbolizar segurança e acolhimento, acaba sendo a pior inimiga, onde ocorrem mais distrações.
Exige-se um exaustivo trabalho terapêutico para mudar a mentalidade dos pais — a vitalidade introjetada das épocas anteriores —, para que aceitem que gestos antes tão naturais merecem hoje o dobro do esforço.