A história do poder no Brasil sempre se mostrou nebulosa. As verdades e fantasias costumam se confundir em tramas obscuras.
O ex-presidente João Goulart (1961-1964) morreu de um ataque cardíaco em 6 de dezembro de 1976 em Mercedes, na província de Corrientes, na Argentina, durante seu exílio político. No entanto, amigos, familiares e especialistas levantaram as suspeitas de que Jango havia sido envenenado por agentes da Operação Condor. A hipótese de complô ganhou força depois que um ex-agente secreto do Uruguai declarou que os remédios que João Goulart tomava para o coração acabaram manipulados. Ocorreu, inclusive, exumação e autópsia do corpo em 2013, mas o laudo da perícia resultou inconclusivo.
Semelhante destino de desconfiança e descrédito turvou o fim do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961). A Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, apresentou relatório que contesta a versão oficial, na qual consta que ele faleceu como vítima de um acidente de carro — o ex-presidente morreu no dia 22 de agosto de 1976, na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Segundo apuração da comissão, a morte de Juscelino foi meticulosamente arquitetada, fundamentada no fato de o perito criminal Alberto Carlos ter sido impedido por policiais e agentes de Estado de fotografar o crânio do motorista Geraldo Ribeiro na exumação da ossada, em 14 de agosto de 1996. O perito contou que viu um furo no crânio de Ribeiro, com características de perfuração por projétil.
Já escutamos várias narrativas a respeito da morte enigmática de Tancredo Neves, um pouco antes de assumir a Presidência da República em 1985. Tancredo, um dos líderes do movimento Diretas Já, teria sido baleado no decorrer de uma missa ou envenenado pelo seu mordomo, que curiosamente adoeceu e faleceu no mesmo período.
Até a famosa Carta-Testamento de Getúlio Vargas não havia sido feita para o suicídio do presidente no dia 24 de agosto de 1954, com o disparo de um revólver calibre 32 no coração, em seu próprio quarto, no Palácio do Catete.
Provavelmente foi preparada bem antes da fatalidade e improvisada como documento final. O secretário de Getúlio, Maciel Filho, que datilografou o depoimento — pois o presidente escrevia a mão, não sabia datilografar —, confessou que se tratava de uma carta de resistência, não de suicídio. Era o testemunho de um homem disposto a morrer lutando.
Recentemente, houve o desmascaramento de um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa do Brasil, para raptar e atentar contra a vida do senador Sergio Moro, em 2022. Existiu, inclusive, habitual queima de arquivo, com execução em emboscada dos dois principais acusados na Penitenciária de Presidente Venceslau II (SP).
E não podemos esquecer a queda misteriosa da aeronave com Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da Operação Lava Jato na Corte, em 2017, e a queda do avião que levava o presidenciável Eduardo Campos em 2014, e a facada que sofreu Jair Bolsonaro na campanha de 2018.
Agora circulam provas de tentativa de assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes por um grupo militar. A Polícia Federal prendeu na terça-feira (19) quatro militares do Exército e um policial federal na operação denominada Contragolpe, que investiga uma organização criminosa que teria planejado um golpe de Estado após as eleições de 2022, investida que culminou nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023.
O Brasil é o país da paranoia, das conspirações, dos segredos sujos nos bastidores, dos porões, das armações clandestinas e motins, do rechaço à democracia. Nada nunca é o que parece.