A cada nova revelação dos familiares de Francisco Wanderley Luiz, fica mais evidente que os ataques que ele provocou no centro do poder, em Brasília, são consequência dos discursos de ódio que marcam o debate político nos últimos anos e que ainda estão muito vivos em boa parte da população.
É óbvio que sempre existiram os pregadores da violência e do caos. Mas a escalada vivenciada nos últimos anos é inédita e não terminou com os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A Polícia Federal (PF) ainda irá investigar se Francisco planejou sozinho as explosões da última quarta-feira (13). As entrevistas de parentes, amigos e as postagens dele nas redes sociais, contudo, deixam claro o objetivo de materializar em violência o ódio que ele tinha por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras autoridades.
Em entrevistas nos últimos dias, um dos irmãos de Francisco relatou a participação dele em acampamentos com manifestações contra a posse do presidente Lula e disse que ele só falava de política nos últimos anos.
A ex-esposa revelou que o homem já havia citado a intenção de matar o ministro do STF Alexandre de Moraes e outras autoridades. Ameaças, aliás, que são comuns em redes sociais e mensagens de WhatsApp.
Diferentemente do que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores dizem, Francisco não era apenas um suicida com perturbação mental. Ele era mais um brasileiro contaminado pelo discurso irresponsável e criminoso contra a democracia e as instituições, cujas consequências são imprevisíveis.
É inútil pedir "pacificação" a militantes fanáticos após anos de pregação da violência. Como exigir moderação às milhares de pessoas que diariamente leem notícias falsas no celular e idolatram políticos e influenciadores que se reproduzem a partir de uma suposta guerra espiritual entre bem e mal, sobre a disputa imaginária entre nós e eles?
O Brasil, hoje, está cheio de Franciscos. Homens e mulheres que cortaram vínculo com amigos e familiares por não tolerarem o diálogo e a convivência pacífica com quem pensa diferente.
Tratar o atentado da última quarta-feira como algo isolado é mais do que conveniência política. E reduzir o caso à atitude de um suicida contribui para esconder um exército de militantes dispostos a tudo para impor suas vontades.